O “CAMINHO” DA DISCÓRDIA NA COP 30 DE BELÉM 

A COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas 2025, que será realizada na cidade de Belém do Pará em novembro, vem sendo vendida pelos organizadores como uma grande oportunidade para mostrar a Amazônia para o mundo. Aliás, Belém é conhecida como o “portal de entrada da Amazônia”. 

Infelizmente, a escolha da cidade vem criando uma série de desgastes para o país. Com cerca de 1,3 milhão de habitantes, Belém é uma típica grande cidade brasileira cheia de problemas sociais, econômicos e, especialmente, de falta itens de infraestrutura dos mais elementares. 

Para começar, a “sede” da COP 30 carece de redes de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos. De acordo com informações do Instituto Trata Brasil, Belém está na lista das 100 maiores cidades brasileiras, porém, ocupando a 93ª posição no ranking do saneamento básico

Outro ponto que chama atenção é a habitação – cerca de 60% da população da cidade vive em habitações precárias em favelas e cortiços. Belém é considerada a capital brasileira mais favelizada. 

No quesito transporte, a imagem da cidade também sai bastante arranhada. Os sistemas de transporte coletivos são precários e, muito pior, faltam boas avenidas para interligar bairros mais distantes à área central da cidade. 

Foi justamente com o objetivo de “maquiar” esse último problema, que o Governo do Estado resolveu desengavetar um projeto que estava parado desde 2012 – a construção da Avenida Liberdade, uma via com 13 km de extensão que está sendo “vendida” com essencial para a mobilidade na Região Metropolitana de Belém. 

Chama a atenção a velocidade de execução da obra, cujo projeto parou no passado devido a preocupações ambientais. O trajeto corta um grande fragmento de floresta, Amazônica diga-se de passagem, criando o isolamento da fauna e flora local. Outro problema é a necessidade de aterramento de áreas úmidas para que seja feito o nivelamento da base da rodovia. 

Quem tem algum conhecimento de biologia sabe que o isolamento de áreas e fragmentos florestais é uma das principais causas de extinção de espécies animais e vegetais. A construção de ferrovias, estradas e represas cria uma barreira para a livre circulação da fauna, um problema que desencadeará no enfraquecimento genético de muitas espécies de animais. 

Esse isolamento também traz uma série de prejuízos para espécies vegetais que usam esses animais para a dispersão de sementes. Um lagarto, por exemplo, come uma fruta de uma árvore numa determinada área da mata e vai eliminar as sementes junto com suas fezes em uma área distante. Com restrições na circulação dos animais, as espécies vegetais não conseguirão garantir sua sobrevivência no longo prazo. 

Imagens de árvores sendo derrubadas para a construção da avenida e o empilhamento de troncos cortados sobre o solo desnudo (vide a imagem acima) começaram a circular em redes sociais e meios de comunicação de todo o mundo, criando indignação e críticas por todos os lados. Falando grosso modo – a conferência onde serão discutidas as soluções e os caminhos para a preservação do clima e de áreas florestais está provocando a destruição de um trecho da icônica Floresta Amazônica. 

Autoridades do Governo do Pará e organizadores da conferência assumiram uma postura defensiva afirmando que a nova avenida é “sustentável” e essencial para a cidade. Inclusive, foi divulgado que a obra não está incluída no conjunto de mais de 30 iniciativas em desenvolvimento para a realização da COP 30. 

Segundo a narrativa oficial, o trecho já havia sido desflorestado no passado para a criação de uma estrada de serviço que foi usada para a construção de uma linha de transmissão de energia elétrica e a construção da nova avenida não implicará na derubada de mais árvores. Entretanto, está sendo difícil fazer essa narrativa colar diante das imagens de pilhas de troncos que estão circulando pelo mundo afora.

O resumo dessa “ópera bufa” que está se desenrolando na cidade – segundo a organização da conferência , não há nenhum mal em destruir um pequeno trecho da Floresta Amazônica por conta do nobre ato de salvar a Floresta Amazônica! 

Pessoalmente, eu costumo chamar algo assim de hipocrisia. Porém, estou aberto a comentários e explicações. 

Para saber mais: A NOSSA AMAZÔNIA

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