
Em nossa última postagem falamos de uma fortíssima onda de calor que passou a dominar grande parte do território brasileiro. Essa onda de calor foi criada por um “domo quente”, ou seja, uma área de alta pressão atmosférica e forte intensidade, que resultou em temperaturas acima dos 40º C em cerca de 1/3 do Brasil.
Infelizmente, a coisa é bem pior do que parece segundo um estudo realizado pelo LASA/UFRJ – Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esse estudo teve a participação de instituições da Argentina, Espanha, Portugal e Venezuela, com apoio da FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, e do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O estudo será publicado na revista científica internacional Theorical and Applied Climatology.
Segundo o estudo, mais de 38 milhões de brasileiros habitantes de grandes metrópoles como o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e outras dez cidades com mais de 1 milhão de habitantes passam até 25 dias por ano vivendo sob condições meteorológicos superiores aos limites do corpo humano.
Conforme tratamos em uma postagem anterior, temperaturas acima de 32º C em dias muito úmidos ou 48º C em locais muito secos podem ser consideradas arriscadas para os seres humanos. Além do mal-estar, esses limites de temperaturas podem resultar em ataques cardíacos, agravamento de casos de câncer, diabetes e de depressão.
O UTCI – Índice Climático Térmico Universal, na sigla em inglês, não trata apenas da temperatura. Esse índice considera também a umidade do ar, o fluxo de radiação solar recebida e a velocidade do vento. Todos esses fatores afetam o conforto térmico do organismo humano e a forma como o corpo reage às condições ambientais.
O aumento progressivo desse estresse térmico começou a acelerar nos últimos 20 anos com o agravamento das mudanças climáticas. E os problemas não param por aí – a cada ano, o período de estresse térmico ganha 10 horas a mais nas cidades analisadas.
Esse estudo de avaliação de bioclimatologia é o primeiro a ser realizado em toda a América do sul nas últimas quatro décadas. No total, o estudo avaliou 31 cidades em toda a América do Sul. No Brasil foram avaliados Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus, Belém, Goiânia, Porto Alegre, Curitiba e Campinas.
Segundo os pesquisadores, o número de horas sob estresse térmico ao longo do ano vem aumentando em todas as zonas climáticas do continente. O período analisado se estendeu de 1979 até 2020. Esse crescimento foi observado em todas as cidades brasileiras estudadas.
Em resposta ao aumento desse estresse térmico, as populações têm mudado seus hábitos de vida. Muitas atividades que costumavam ser feitas durante o dia agora estão sendo feitas durante a noite, período em que as temperaturas ficam um pouco mais amenas.
Entre as cidades estudas, Fortaleza e Goiânia foram as que apresentaram os maiores aumentos, com 13 horas a mais de estresse térmico. Em Brasília, Campinas, Manaus e Belo Horizonte, o aumento foi de 10 horas. Nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro o aumento foi de 6 horas – Belém e Curitiba tiveram aumentos de 4 e 2 horas, respectivamente.
A OMS – Organização Mundial de Saúde, considera o acesso a locais refrigerados como a melhor forma de se combater o estresse térmico. Essa recomendação, entretanto, esbarra em problemas econômicos. Aqui no Brasil, os dados indicam que pouco mais de 13% dos domicílios possuem sistemas de ar-condicionado.
Desgraçadamente, para a imensa maioria dessas populações a única forma de se combater o estresse térmico é se valer de muita sombra e água fresca…
