
Uma forte onda de calor está castigando vários Estados do Sul dos Estados Unidos e afetando mais de 62 milhões de pessoas com temperaturas acima de 40º C. Os Estados mais afetados são o Arizona, a Flórida e, especialmente, o Texas, onde a cidade de Houston viu os termômetros atingirem a marca de 43º C.
As autoridades texanas tiveram de aumentar a produção e a distribuição de água potável para a população, além de solicitar o trabalho de voluntários para ajudar na distribuição de garrafas de água. Entre outras preocupações, as autoridades estaduais estão se esforçando para retirar milhares de sem-teto das ruas das cidades do Texas.
Além dos inúmeros problemas de saúde associados ao calor extremo, foram relatados 5 casos de malária contraídos dentro do país, um fato que não ocorria há mais de 20 anos nos Estados Unidos. Foram 4 casos na Flórida e 1 no Texas.
Apesar de ser uma doença muito comum em áreas tropicais infestadas por mosquitos, a malária já foi endêmica em grande parte da Europa e dos Estados Unidos. Hipócrates (460 a.C.-370 a.C.), sábio grego considerado o pai da medicina, foi o primeiro a fazer uma conexão entre água parada e a ocorrência de febres na população.
Esse conhecimento foi passado aos romanos, que foram os pioneiros na drenagem de pântanos como forma de controlar as sucessivas epidemias na península itálica – aliás, a palavra malária deriva da expressão em italiano antigo mal aria ou ar ruim. Há relatos de grandes epidemias de malária na França, Espanha, Inglaterra, Holanda e Alemanha, entre outros países europeus – onde existisse pântanos e mosquitos havia possibilidade de grandes epidemias de malária.
A doença foi erradicada gradualmente a partir de melhorias na infraestrutura de saneamento e drenagem de áreas pantanosas. A Itália, para citar um exemplo, só conseguiu erradicar totalmente a malária em 1970.
A malária chegou aos Estados Unidos junto com os primeiros colonos, muitos dos quais estavam infectados com os agentes Plasmodium vivax e Plasmodium malariae, comuns na Inglaterra. Posteriormente, com a importação dos primeiros escravos vindos do continente africano a partir de 1620, foi introduzido no país o agente Plasmodium falciparum.
As epidemias eram recorrentes nas antigas Colônias Anglo Americanas – em 1723 um colono escrevia para sua família na Escócia: “Estou sempre com febres e calafrios… este lugar só é bom para médicos e padres”. Com o avanço dos colonizadores rumo ao interior do país, a malária foi se disseminando e se tornando endêmica nas regiões Sul e Oeste.
Consta que as epidemias de malária eram tão frequentes e custosas na antiga colônia francesa da Louisiane, que este foi um dos motivos que levou Napoleão Bonaparte a vender o território para os americanos em 1803, atualmente chamado de Estado da Louisiana.
Nos estados do Sul dos Estados Unidos, aliás, a combinação do clima subtropical (o mesmo clima do Sul do Brasil a partir do Sul do Estado de São Paulo), da grande quantidade de áreas pantanosas e do sensível empobrecimento da região após a derrota dos Estados Confederados na Guerra Civil Americana (1861-1865), tornou a região propícia à presença de grandes populações de mosquitos e de uma alta incidência de epidemias de malária.
Estudos indicam que até a década de 1930, um terço da população dos estados do Sul norte-americano sofria de malária crônica. O controle e a reversão das epidemias de malária nos Estados Unidos só foram possíveis a partir da massificação da infraestrutura de saneamento básico, da aplicação de inseticidas para o controle das populações de mosquitos, da drenagem de áreas pantanosas e, principalmente, da obrigatoriedade da instalação de telas nas janelas e portas das residências.
O governo americano também investiu pesadamente em campanhas educativas, mostrando à população quais eram os hábitos e os horários de maior incidência dos ataques dos mosquitos. Por volta do ano de 1950, a malária foi considerada erradicada dos Estados Unidos, restrita a alguns poucos casos anuais em regiões isoladas e densamente florestadas onde os mosquitos são e sempre farão “parte da paisagem”. É importante ressaltar que não existem vacinas homologadas contra a malária e que as medidas preventivas são as melhores alternativas para o controle da doença.
O aumento das temperaturas em diversas regiões do mundo, conforme tratamos na postagem anterior, está criando as condições ambientais para a colonização dessas regiões por mosquitos como o Aedes aegypti e o Aedes albopictus. A reboque, essas regiões, como é o caso da Europa, estão sujeitas a conviver com doenças transmitidas por esses mosquitos como a dengue, a febre Chikungunya, a Zika, a síndrome de Guillain Barré, a febre do Nilo Ocidental, entre outras.
Esses casos de malária nos Estados Unidos podem ser um sinal de alerta da colonização de grandes áreas por mosquitos que migraram para o Norte a partir de regiões da América Central e do Caribe.
Com todo esse calor, os mosquitos devem estar se sentindo “em casa”.

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