
Em tempos de aquecimento global, com notícias alarmantes sobre ondas de calor e derretimento de geleiras, é cada vez mais urgente o controle das emissões dos GEE – Gases de Efeito Estufa. Conforme já tratamos em inúmeras postagens, esses gases amplificam o efeito estufa, um fenômeno natural da atmosfera, provocando uma elevação gradual das temperaturas globais.
Um desses gases é o carbono, liberado em grande parte na atmosfera na forma do dióxido de carbono (CO2). Esse carbono faz parte do ciclo natural da vida no planeta, sendo absorvido por plantas e entrando na cadeia alimentar dos seres vivos.
Além da atmosfera, o carbono é encontrado nos oceanos, na vegetação dos biomas e nos seres vivos, além de ser estocado nos solos e nas formações geológicas na forma do carbono mineral. De acordo com algumas estimativas, o total de carbono na Terra é da ordem de 416 Gigatoneladas, sendo que apenas 0,05% está presente nos compostos orgânicos.
Os solos terrestres armazenam um volume equivalente a 2.500 Gigatoneladas de carbono. Esse volume corresponde a aproximadamente quatro vezes o que é armazenado pela biomassa florestal e a mais de três vezes o volume de carbono na atmosfera. Preservar esses solos passa a ser uma questão vital dentro dos esforços de combate às mudanças climáticas.
Sempre que falamos em biomassa vegetal é quase que impossível não falarmos da Floresta Amazônica e sua fabulosa área de mais de 5,5 milhões de km². Das 37 Gigatoneladas de carbono armazenadas nos solos do Brasil, cerca de 19,8 Gigatoneladas estão armazenadas nos solos amazônicos.
A lista é seguida pelo Cerrado, com 8,1 Gigatoneladas de carbono armazenado, e pela Mata Atlântica, com um volume de 5,5 Gigatoneladas. Em valores médios, cada hectare de solo no Brasil armazena 45 toneladas de carbono.
Apesar dos solos da Amazônia serem, disparados, os grandes armazenadores de carbono em números absolutos, estudos recentes indicam que a Mata Atlântica e os Pampas ganham em densidade – na Mata Atlântica são 50 toneladas de carbono por hectare e nos Pampas são 49 toneladas por hectare. Nesse quesito, a Amazônia fica em terceiro lugar com 48 toneladas por hectare.
A manutenção dos estoques de carbono armazenados nos solos passa a ser um novo argumento para a conservação da cobertura vegetal. Os principais processos de perda de carbono nos solos são a lixiviação, a erosão, a volatilização e a decomposição (aeróbia e anaeróbia).
A ação erosiva da água das chuvas está por trás da maior parte desses processos. Sem a proteção da cobertura vegetal, os solos ficam expostos à força das águas, que provocam o desprendimento e o arrastro de partículas primárias dos solos. A água também infiltra com facilidade nos solos, dissolvendo e removendo materiais solúveis.
De acordo com informações do MapBiomas, uma rede colaborativa, formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia, o Brasil perdeu 3,2 Gigatoneladas de carbono armazenado em seus solos entre 1985 e 2021. Essa perda se deu em áreas de solos degradados de floresta e equivalem a quase todo o estoque armazenado no bioma Caatinga, que correspondia a 2,6 Gigatoneladas em 2021.
Apesar do mundo falar aberta e continuamento da destruição da Floresta Amazônica, a Mata Atlântica e os Pampas são os biomas mais ameaçados do Brasil. De sua área original no início da colonização, a Mata Atlântica já perdeu mais de 80% de sua cobertura. Nos Pampas essa perda já supera os 50%.
Recuperar o que for possível dessas perdas e evitar que novas áreas florestais sejam destruídas ganham uma importância ainda maior em tempos de aquecimento global.
