
A matriz energética apresenta as fontes de geração de energia que são utilizadas pela população de um país. No caso do Brasil, 34,4% da energia vem da queima de derivados de petróleo, 16,4% da cana-de-açúcar, 11% de fontes hidráulicas, 13,3% do gás natural, 5,6% do carvão mineral, 1,3% da energia nuclear, 8,7% de fontes renováveis e 0,6% de outras fontes não renováveis.
Um destaque da nossa matriz energética é a grande dependência no uso de carvão de origem vegetal e de lenha, o que representa 8,7% do total. Em regiões pobres do país – em especial no interior da Região Nordeste, há uma grande dependência dessa fonte de energia, sobretudo para as famílias cozinharem.
De acordo com dados do PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, realizada em 2019, pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de 20% das famílias brasileiras depende do uso de lenha ou carvão vegetal para cozinhar. Esse número costuma crescer em momentos de grande aumento no preço do gás de cozinha.
Enquanto milhões de famílias aqui no Brasil sonham com todas as comodidades e praticidades de um bom fogão, especialmente a gás, está se desenrolando uma verdadeira guerra nos Estados Unidos pela proibição do uso do gás em sistemas de aquecimento e em fogões.
Essa disputa, que já é antiga, ganhou fôlego renovado com a divulgação de um relatório da CPSC – Comissão de Segurança de Produtos de Consumo, na sigla em inglês. Esse relatório mostra os “danos à saúde” que podem ser desencadeados pela liberação de dióxido de nitrogênio (NO2) e monóxido de carbono (CO) a partir da queima do gás.
Aqui é preciso fazer uma ressalva: no Brasil é utilizado, predominantemente, o GLP – Gás Liquefeito de Petróleo, em fogões e em sistemas de aquecimento. Esse gás é uma mistura de propano e butano, sendo bem menos poluente. Nos Estados Unidos é mais comum o uso do metano (CH4), que é um dos mais importantes gases de efeito estufa, sendo bem mais tóxico e poluente.
De acordo com inúmeros relatórios, que passaram a ser divulgados por uma grande campanha para a proibição do uso do gás, passou a ser destacado um estudo do Jornal Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública que aponta que os fogões e os sistemas de aquecimento que utilizam esse tipo de combustível são responsáveis por 12,7% dos casos de asma em crianças nos Estados Unidos.
Também passaram a ser divulgadas notícias que associam a poluição criada no interior das casas a graves problemas e irritações nos pulmões, além de aumentar os riscos de doenças cardíacas e de vários tipos de câncer.
Por fim, os críticos passaram a afirmar que o grande volume de equipamentos que queimam gás nas residências gera grandes quantidades de gases de efeito estufa como o metano (CH4) e o dióxido de carbono (CO2), responsáveis principais pelo efeito estufa e pelo aumento das temperaturas globais.
Os críticos, como sempre, mostram os números – cerca de 38% dos lares norte-americanos possuem e utilizam fogões a gás. Em números absolutos isso corresponde a 40 milhões de fogões, isso sem falar nos populares sistemas de aquecimento de água e de ambientes.
Do outro lado da disputa estão as grandes empresas que produzem e distribuem gás para residências de todo o país. Toda essa imensa base de fogões e sistemas de aquecimento precisam ser abastecidas com o combustível, o que essas empresas fazem em troca do pagamento de uma generosa conta mensal. São centenas de bilhões de dólares em faturamento.
Essas empresas ressaltam as centenas de milhares de empregos que são gerados pelas atividades de produção, distribuição, instalação e manutenção de tubulações, fabricação de equipamentos, entre muitas outras. O setor também paga enormes volumes de impostos para os diversos níveis de Governo.
Também insistem em lembrar dos “velhos tempos”, quando a população dos Estados Unidos dependia da derrubada de árvores para a produção de lenha para a queima em fogões e lareiras, entre outras coisas do tipo.
De acordo com o setor, esses problemas poderiam ser facilmente resolvidos com a simples adoção de sistemas de ventilação melhores nas cozinhas e locais onde funcionam os aquecedores. Isso poderia ser feito com a instalação de janelas maiores para facilitar a circulação do ar ou com a instalação de exaustores elétricos.
No contra-ataque, os críticos ao uso do gás insistem que já estão disponíveis do mercado inúmeros sistemas de aquecimento e fogões que se valem de dispositivos de indução de eletricidade, equipamentos esses que não são poluentes (pelo menos dentro das residências).
Só para lembrar – grande parte da energia elétrica utilizada nos Estados Unidos é gerada em centrais termelétricas movidas a carvão e/ou a gás, unidades tradicionalmente bastante poluentes. Mesmo sendo “limpa”, a energia elétrica vem de uma fonte “suja”.
Essa é uma guerra que vai longe e que só será efetivamente resolvida quando fontes de energia renováveis e limpas estiverem disponíveis e ao alcance de todos.
