
A temporada das queimadas aqui no Brasil está começando. O mês de maio marca o início do período de seca no Cerrado Brasileiro, que deve se estender até o mês de setembro. Na Amazônia, o verão começa em julho e seguirá até o final do ano.
Aqui é importante lembrar que esses dois grandes biomas brasileiros apresentam apenas duas estações climáticas bem definidas – o verão, época com clima quente e seco, e o inverno, época das chuvas. A vegetação seca, principalmente em áreas do Cerrado, e as altas temperaturas formam as condições ideais para a ocorrência de grandes queimadas e também para a publicação de grandes manchetes na imprensa internacional falando das queimadas na Floresta Amazônica.
Hoje, entretanto, vamos falar da temporada de incêndios florestais nos Estados Unidos, que esse ano começou mais cedo. Com o final do inverno e com o tempo seco, já foram registrados mais de 20 mil focos de incêndio em áreas de florestas por todo o país nos primeiros messes de 2022, o que já consumiu cerca de 400 mil hectares de vegetação.
As regiões em situação mais crítica estão nos Estados do Meio-Oeste, especialmente no Arkansas, no Colorado e no Novo México, onde a situação é particularmente grave – metade dos 33 condados do Estado já registraram focos de incêndios nas últimas semanas. Na região de Denver, a capital do Colorado, as autoridades estão em alerta máximo. As matas locais estão extremamente secas, com muitos ventos e calor forte e fora de época. Além disso, há mais de uma década que a região é vítima de grandes incêndios florestais nessa época.
Outro Estado norte-americano que se prepara para uma temporada de fortes incêndios é a Califórnia. Segundo um balanço das autoridades locais, 93% da área do Estado está enfrentando uma seca severa, uma situação que tende a se agravar nos próximos meses. Em 2021, os incêndios destruíram mais de 1 milhão de hectares de florestas na Califórnia, uma área equivalente à do Estado de Connecticut.
Um sintoma da escassez hídrica na Califórnia pode ser visto nos reservatórios de água – a maior represa de abastecimento do Estado, Shasta, está com apenas 38% da sua capacidade máxima. A média histórica nesse período de seca é de 48%, o que sinaliza que também que haverá problemas para o abastecimento de água da população nos próximos meses.
As mudanças climáticas vêm provocando uma redução sistemática das chuvas e das precipitações de neve nos últimos anos em toda a região Oeste e Central dos Estados Unidos. O rio Colorado, que é um dos mais importantes dessas regiões, vem sofrendo com a redução sistemática dos seus caudais, o que se reflete em prejuízos para a agricultura irrigada de diversos Estados.
A falta de chuvas também está prejudicando o crescimento da vegetação de altitude e a formação do manto de neve nas Montanhas Rochosas. Quando ocorre uma nevasca, a poeira e a vegetação seca estão se misturando com a neve, que fica com um aspecto barrento. Isso prejudica o efeito albedo, que é a reflexão de grande parte da energia da luz solar sol.
Cores claras, como o branco da neve no alto das montanhas, refletem a maior parte da radiação solar. Numa neve com aspecto barrento, essa reflexão fica prejudicada e a neve acaba absorvendo calor e derrete rapidamente. Sem a camada de neve, as rochas no topo das montanhas acabam absorvendo quantidades cada vez maiores de calor e acelerando cada vez mais o derretimento da neve.
É sempre importante lembrar que a neve acumulada no alto de cadeias montanhosas costuma derreter gradativamente ao longo do ano e essa água alimenta as nascentes de muitos rios. Muitos dos afluentes do rio Colorado são alimentados a partir de nascentes no alto das Montanhas Rochosas, nascentes essas que estão ficando cada vez mais comprometidas pela falta de neve.
O Governo dos Estados Unidos já havia divulgado em janeiro um grande plano para o combate aos incêndios florestais nos próximos 10 anos. Esse plano, batizado de Estratégia de Crise de Incêndios Florestais, prevê tornar as florestas mais saudáveis e resistentes a esses eventos.
Um dos pontos chaves dessa estratégia é a redução do volume de matéria combustível nessas florestas. Galhos e árvores caídas no chão da floresta, vegetação rasteira e árvores velhas, entre outros elementos, são reservas de material combustível a espera de uma pequena chama para entrar em combustão. Reduzir a quantidade desses materiais é fundamental para evitar tais situações.
Esse controle pode ser feito com a poda sistemática e o corte de árvores, culminando com queimadas controladas desses materiais. Em algumas regiões da Califórnia, citando um exemplo, os fazendeiros conseguem fazer esse controle com o uso de rebanhos de cabras soltas no meio da mata – os vorazes animais comem todos os arbustos e vegetação rasteira, deixando muito pouco combustível para os incêndios.
Atualmente, o Serviço Florestal dos Estados Unidos realiza esse tipo de ação preventiva em cerca de 800 mil hectares de florestas no Oeste norte-americano. Com a adoção do novo plano, O Serviço Florestal, o Departamento do Interior e outros parceiros estimam limpar cerca de 8 milhões de hectares, além de outros 12 milhões de hectares em parcerias com estados, municípios e empresas privadas nos próximos 10 anos.
Entre as regiões prioritárias para a implantação desse plano estão o Arizona, Colorado, Califórnia, Oregon e Washington, justamente os Estados que mais vem sofrendo com os grandes incêndios florestais nos últimos anos.
A questão dos incêndios florestais está ficando tão séria nos Estados Unidos que até a produção agrícola está sendo prejudicado. Muito produtores do Meio-Oeste, onde se concentra a maior parte da produção de grãos do país, já anunciaram que vão adiar o início do plantio do milho e do trigo esse ano por causa do medo desses incêndios.
Em uma época de escassez de alimentos por causa da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, essa é uma notícia que preocupa muitos governos pelo mundo afora. Isso poderá, inclusive, criar uma pressão sobre áreas florestais remanescentes de outros países produtores de grãos como é o caso do Brasil.
Seria importante de políticos, artistas, celebridades e famosos internacionais parassem de falar tanto das queimadas e da “destruição” da Floresta Amazônica e que passassem a prestar um pouco mais de atenção em tudo o que está acontecendo no resto do mundo e, particularmente, nas florestas dos Estados Unidos.
Como sempre repetimos aqui no blog, a preservação da Amazônia é importante, porém, todas as florestas do planeta são fundamentais para a estabilidade do clima mundial. Infelizmente, muita gente acaba esquecendo disso
[…] A TEMPORADA 2022 DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS NOS ESTADOS UNIDOS […]
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[…] ainda um outro complicador para os californianos – os frequentes e violentos incêndios florestais que assolam o Estado ano após ano, convenientemente esquecidos nos discursos dos ambientalistas e […]
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[…] pelas autoridades do Estado no início do verão, 93% do território da Califórnia enfrenta uma condição de seca severa, situação que favorece muito a formação de grandes incêndios florestais. Em 2021, os […]
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[…] Um outro problema para os produtores são os incêndios florestais que acabam surgindo em função do tempo seco e quente. A fumaça desses incêndios, chamada pelos produtores de “mancha de fumaça”, é absorvida pelas cascas das uvas, o que vai alterar tanto a cor quanto o sabor dos vinhos. Um exemplo desse problema foi o que ocorreu em 2020 no Napa Valley na Califórnia, o maior centro produtor dos Estados Unidos. A Califórnia tem sofrido, sistematicamente nos últimos anos, com grandes incêndios florestais. […]
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[…] não é segredo que o Estado vem sofrendo sistematicamente, ano após ano, com grandes incêndios florestais. Com a falta de chuvas e com a vegetação seca, basta uma pequena fagulha ou uma bituca (ou […]
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