O ICÔNICO MONTE FUJI E SUAS NEVES

O Monte Fuji, ou Fujiyama para os japoneses, é um vulcão ativo e a montanha mais altada ilha de Honshu, a maior do arquipélago do Japão. A montanha fica localizada a Oeste da cidade de Tóquio, na divisa entre as províncias de Shizuoka e de Yamanashi. Em dias com céu limpo, os moradores de Tóquio conseguem ver o monte numa linha próxima ao Oceano Pacífico. 

O formato cônico do Monte Fuji coberto de neve se transformou em um dos símbolos mais conhecidos do Japão. A imagem aparece em pinturas, gravuras, tecidos, tapeçarias e porcelanas antigas. Em tempos modernos, o Monte Fuji passou a ser reproduzido através de fotografias, filmes e material impresso. 

Durante os meses de inverno, em especial no mês de dezembro, a montanha costuma ficar coberta com uma capa de neve. Nessa temporada, a montanha é uma das grandes atrações turísticas da região. Nesse último ano, entretanto, o volume de neve que caiu sobre as encostas do Monte Fuji foi muito pequeno e a montanha ficou “pelada” por vários meses, um problema que se insere em um quadro mais amplo de mudanças climáticas mundiais. 

No final de setembro de 2020 caíram as primeiras neves da temporada sobre as encostas da montanha. Essa fina camada de neve derreteu em poucos dias, deixando a montanha praticamente sem cobertura até o final de dezembro, quando caiu uma nova camada de neve. Apesar das baixas temperaturas do mês de janeiro, a maior parte das neves desapareceram em poucos dias devido aos ventos com temperaturas acima de 0° C. 

De acordo com análises de imagens feitas pelo satélite Landsat-8 do Programa Earth Observatory da NASA – Administração de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, na sigla em inglês, a cobertura de neve no Monte Fuji foi a menor em 20 anos.  

Um detalhe interessante do ano de 2020 foi a formação de La Niña nas águas do Oceano Pacífico, um fenômeno climático que costuma deixar o Japão com as águas costeiras mais frias e com temperaturas mais baixas nas ilhas. Fortes nevascas caíram na costa Oeste do país, mas a região do monte Fuji, que fica na costa Leste, não foi atingida. 

Medições feitas através de estações meteorológicas terrestres instaladas ao redor do Monte Fuji mostraram um quadro ainda mais preocupante – a precipitação de neve até o dia 24 de dezembro atingiu apenas 10% dos volumes medidos em anos normais. Também foi verificado que as temperaturas na região foram bem mais altas que a média dos anos anteriores. 

Projeções climáticas de longo prazo indicam que as condições ambientais da montanha estão mudando. A temperatura média no cume do Monte Fuji nos meses de verão aumentou cerca de 2° C. Esse aumento de temperatura pode estar por trás do avanço da linha da floresta pela encosta da montanha – nos últimos 40 anos, a floresta “subiu” cerca de 30 metros. 

Uma outra indicação de mudanças climáticas no Japão está ligada ao tradicional espetáculo da floração das cerejeiras, um dos eventos naturais mais aguardados do país. Na cidade de Kyoto, a antiga capital do Japão, as primeiras árvores floresceram no dia 26 de março neste ano. De acordo com as anotações oficiais da cidade, que são cuidadosamente compiladas desde o ano 812, essa foi a floração mais precoce de todos os tempos. Até então, a florada mais precoce havia sido registrada em 27 de março de 1403 e a mais tardia em 5 de março de 1323. 

De acordo com declarações de cientistas japoneses, a floração das cerejeiras depende das temperaturas dos meses de fevereiro e março – quanto mais alta a temperatura, mais cedo as flores surgem. Análises feitas nas datas de floração das cerejeiras de Kyoto indicam que a flores estão surgindo cada vez mais cedo nos últimos 50 anos, um período que coincide com o aumento das temperaturas do planeta. 

Nesse mesmo período, o país passou a ser assolado por fortes ondas de calor na época do verão. Em 2018, citando um exemplo, a temperatura atingiu a marca de 41,1° C, uma das maiores já registradas no país. Registros da época indicam que mais de mil pessoas, principalmente idosos, morreram em decorrência dessa onda de calor. 

Nesse mesmo ano, a ilha Esanbe Hanakita Kojima, que ficava localizada no Nordeste do arquipélago japonês e ocupava menos de 2 km², foi dada como ”desaparecida”. Esse trágico evento, que passou totalmente despercebido das autoridades do país, só foi notado pelo escritor Hiroshi Shimizu, que estava escrevendo um livro sobre as ilhas da região e tentou visitar a ilha em 2018.  

De acordo com a Marinha do Japão, a última vez que a ilha foi visitada por uma de suas embarcações foi em 1978. Desde então, nenhuma outra visita oficial a ilha foi feita e, portanto, ninguém sabe afirmar ao certo quando e como foi que a ilha desapareceu. A hipótese mais provável é um aumento do nível do Oceano Pacífico na região, que foi encobrindo o pequeno pedaço de terra gradativamente, algo que lembra muito o que ocorreu com a ilha New Moore na costa da Índia há mesma época. 

Esse procedimento da Marinha japonesa pode parecer estranho, mas a verdade é que o arquipélago do Japão é formado por 6.852 ilhas. São quatro grandes ilhas – Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku, que formam 97% do território do país. Todas as demais ilhas são muito pequenas e a maioria é desabitada. Logo, não é de se estranhar que uma pequena ilha desapareceu e ninguém percebeu. 

Apesar de ocupar um território com pouco mais de 377 mil km², o Japão é um dos maiores emissores mundiais de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono. O país é fortemente dependente da queima do carvão mineral para geração de eletricidade em usinas termelétricas. O país vinha reduzindo a sua dependência de combustíveis fósseis nessa área até o desastre na usina nuclear de Fukushima em 2011. 

A central nuclear foi atingida por um tsunami que foi gerado por um forte maremoto. Com o impacto das ondas, três dos seis reatores nucleares foram atingidos e derreteram. Esse foi o maior acidente nuclear desde a explosão de um reator na usina nuclear de Chernobil na Ucrânia em 1.986. Após o desligamento de Fukushima, diversas usinas termelétricas a carvão tiveram de ser reativadas para compensar a produção de energia elétrica. 

O Japão vem realizando grandes esforços ambientais nas últimas décadas e já anunciou que pretende alcançar a neutralidade nas emissões de carbono até 2050, ou seja, zerar todas as emissões de gases de efeito estufa. Para isso acontecer, estão sendo planejados pesados investimentos em diversas áreas, principalmente em fontes de energia renováveis. 

Torçamos para que todas essas medidas, que estão sendo implementadas no Japão e em outros países do mundo, consigam atingir a tão esperada neutralidade nas emissões de carbono e que consigamos, ao menos, estabilizar as grandes mudanças climáticas globais.

2 Comments

Deixe um comentário