A CHEGADA DOS CAFEZAIS AO RIO DE JANEIRO

Entre meados do século XIX e o fatídico ano de 1929, o café foi o mais importante produto da pauta de exportações do Brasil. O primeiro grande centro produtor e exportador do grão foi o Estado do Rio de Janeiro. As primeiras sementes de café teriam chegado na cidade do Rio de Janeiro por volta de 1774 pelas mãos do desembargador João Alberto Castelo Branco. Essas sementes teriam sido entregues aos Frades Barbadianos, que teriam sido os responsáveis pela produção das primeiras mudas. Algumas fontes afirmam que Castelo Branco trouxe mudas de café de Belém do Pará e que ele mesmo teria feito o plantio. 

O Rio de Janeiro teve um começo de história bastante tumultuado. O Donatário da então Capitania de São Vicente – 2° Quinhão, que englobava toda a faixa Sul fluminense e o Vale do Paraíba em São Paulo, era Martin Afonso de Sousa. Por falta de recursos, tanto humanos quanto financeiros, Sousa iniciou seu empreendimento de colonização no litoral de São Paulo em 1532, de onde pretendia expandir em direção ao Norte. Ele dividia o seu projeto colonial com seu irmão – Pero Lopes de Sousa, Donatário da Capitania de Santo Amaro, uma estreita faixa de terra entre os domínios dos dois trechos da Capitania de São Vicente. 

Aproveitando-se desse vazio da colonização, aventureiros franceses invadiram a Baía da Guanabara e ali fundaram a chamada França Antártica, um empreendimento que estendeu entre os anos de 1555 e 1570 e contava com o apoio dos índios Tamoios. Essa “colônia” foi comandada por Nicolas Dante de Villegagnon, que pretendia instalar ali uma base naval e militar, permitindo assim que o Reino da França controlasse o tráfego de embarcações em todo o Oceano Atlântico Sul e, consequentemente, todo o comércio marítimo com as Índias.  

Tropas portuguesas comandadas por Estácio de Sá só conseguiram expulsar todos os franceses da região em 1570. Durante essa fase tumultuada, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada em 1565. Nas proximidades do Morro do Pão de Açúcar, os portugueses fundaram o Forte de São João, embrião da cidade do Rio de Janeiro. Seriam necessárias várias décadas até que os portugueses conseguissem “pacificar” os belicosos índios Tamoios. 

A Baía da Guanabara apresentava um dos melhores portos naturais da costa brasileira, tendo como vantagem extra uma entrada estreita, ideal para a defesa contra embarcações invasoras. A partir do início do século XVII, canaviais começaram a surgir nas áreas de entorno da Baía e, especialmente, na região conhecida como Baixada Fluminense. A partir das primeiras décadas do século XVIII, os canaviais se expandiriam na direção de Cabo Frio. 

Há registros históricos que confirmam que, por volta de 1630, o Rio de Janeiro abrigava perto de 100 engenhos de cana, a maioria de pequeno e médio porte e com uma produção muito aquém dos grandes engenhos do Nordeste. Muitos eram na verdade engenhocas, pequenas unidades para moagem das canas com o objetivo de se produzir aguardente. Crescendo discretamente, tanto em termos econômicos quanto populacionais, o Rio de Janeiro atingiu a marca de 30 mil habitantes na segunda metade do século XVII, assumindo o posto de cidade mais populosa da Colônia. 

Com o início do Ciclo do Ouro, a importância do Rio de Janeiro aumentou muito – a região passou a centralizar o escoamento dos carregamentos de ouro para Portugal e a cidade ganhou grande peso econômico e importância como porto. Em 1763, por decisão do Marquês de Pombal, secretário geral de El-Rei, a capitania da Colônia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro. Em 1808, essa importância aumentaria ainda mais com a transferência do Rei de Portugal – Dom João VI, e toda a sua corte para a cidade, fugindo assim das tropas invasoras de Napoleão Bonaparte. 

Esse rápido resumo dá uma ideia geral da importância econômica e social que a cidade do Rio de Janeiro estava ganhando dentro da Colônia e do grande número de empreendedores que estavam buscando alternativas para fazer fortuna. Foi dentro desse ambiente efervescente que a cultura do café encontraria as condições ideais para se desenvolver. 

Os primeiros cafezais surgiram ao redor da cidade do Rio de Janeiro nas últimas décadas do século XVIII. Incluem-se na lista os atuais bairros de Jacarepaguá, Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz. Uma região muito conhecida da cidade atualmente – a Floresta da Tijuca, já foi ocupada por grandes fazendas com plantações de café. Outra região próxima que já foi tomada por cafezais é a Baixada Fluminense, onde os pés de café paulatinamente foram substituindo os antigos canaviais. 

O baixo preços das terras em regiões interioranas do Estado do Rio de Janeiro, principalmente ao longo da antiga estrada Rio-São Paulo, rapidamente começou a atrair a atenção dos empreendedores. A cultura cafeeira começou a se irradiar na direção de São João Marcos e Resende, chegando a cidades como Vassouras, Valença, Paraíba do Sul e, mais tarde, Cantagalo. O Vale médio do rio Paraíba do Sul, ou simplesmente Vale para os fluminenses, apresentava um clima e altitudes perfeitas para a produção do café.  

Os terrenos virgens, cobertos pela densa vegetação de Mata Atlântica possuíam uma fertilidade invejável. Seguindo as águas do rio Paraíba do Sul, os cafezais também se espalhariam por terras do Leste de Minas Gerais e chegariam ao Sul do Espírito Santo. Uma outra frente de expansão dos cafezais surgiria a Leste da Baía da Guanabara, desde São Gonçalo até Itaboraí e Maricá. 

Ao longo das primeiras décadas do século XIX, a cidade de Vassouras se transformou na capital brasileira do café, uma posição que trouxe muita riqueza e prosperidade para a região. O Porto do Rio de Janeiro se transformaria no mais importante do Brasil e a riqueza gerada pela cafeicultura na cidade do Rio de Janeiro se manifestaria até o ano de 1910. 

Os principais mercados para o café produzido no Brasil há época eram os Estados unidos, a Inglaterra e a França. Na década de 1820, a produção de café no Brasil, principalmente em terras fluminenses já representava 18% da produção mundial. Na década seguinte, esse volume alcançaria a marca de 36% e, em 1850, bateria nos 48% da produção mundial, o que colocou o Brasil como o maior produtor mundial de café. Há época, o Estado do Rio de Janeiro respondia por 79% da produção nacional de café

Além de solos férteis e clima adequado, a produção cafeeira dependia de muita mão de obra. Naquele momento, a grande massa de trabalhadores era formada por mão de obra escrava (vide foto). O aumento exponencial que se observou na agricultura fluminense há época transformou o Estado do Rio de Janeiro no grande mercado para a venda de escravos “novos e usados”. Nas primeiras décadas do século XIX, o comércio internacional de escravos ainda era permitido e grandes “lotes de negros” chegavam com frequência ao cais do Rio de Janeiro.  

Um outro mercado que surgiu com força foi a venda de escravos entre Estados. Os grandes engenhos do Nordeste Açucareiro agonizavam naquele momento e a venda de escravos “de segunda mão” para as grandes fazendas de café da Região Sudeste acabaram por se transformar em uma fonte de renda para engenhos falimentares. A Bahia foi uma das principais fornecedoras dessa mão de obra para o Rio de Janeiro. As antigas e decadentes regiões de mineração das Geraes também dispunhas de bons estoques de “negros” subutilizados, que também passaram a ser deslocados para o Vale do rio Paraíba e arredores. 

Os grandes fazendeiros fluminenses fizeram verdadeiras fortunas com a produção e venda do café, transformando algumas cidades da região em verdadeiras “ilhas” de prosperidade. Falaremos sobre isso na próxima postagem. 

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