MADAGASCAR E SEUS INÚMEROS PROBLEMAS AMBIENTAIS

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Algumas semanas atrás, nós publicamos uma postagem falando sobre os graves problemas ambientais da Austrália, que naquele momento ainda sofria com grandes incêndios florestais. Ao contrário do papel de “vítima” dos incêndios, posição que foi amplamente divulgada e defendida nos meios de comunicação de todo o mundo, nós afirmamos que a Austrália é sim uma das principais responsáveis pelos incêndios descontrolados que atingiram áreas com remanescentes florestais do país.  

A mineração, a agricultura e a pecuária no país têm avançado ferozmente contra o que restou das antigas florestas nativas, que sofrem com grandes desmatamentos. Essa intensa supressão vegetal tem criado inúmeros fragmentos florestais mais secos e, portanto, mais susceptíveis aos incêndios naturais, que nesse ano foram turbinados pelas mudanças climáticas globais. 

A Austrália, infelizmente, faz parte de um grande grupo de países com uma péssima postura no respeito ao meio ambiente e onde a destruição da natureza parece estar completamente fora de controle. Vamos começar falando da gravíssima situação da Ilha de Madagascar. 

A Ilha de Madagascar fica no Oceano Índico, na costa Sudeste da África, ao largo de Moçambique. É considerada a quarta maior ilha do mundo e surgiu em consequência da fragmentação do antigo supercontinente de Gondwana. Até cerca de 165 milhões de anos atrás, a América do Sul, África, Antártica, Ilha de Madagascar, Índia (o famoso subcontinente indiano), Austrália, Nova Zelândia, Nova Caledônia e algumas outras ilhas, formavam um único bloco contínuo de terras. Com o início da movimentação das placas tectônicas e de um forte ciclo de erupções vulcânicas, esse grande bloco continental se fragmentou e as “peças” começaram a se movimentar sobre o globo terrestre, formando assim a atual configuração continental do planeta. 

Durante um longo período geológico, a Ilha de Madagascar se manteve ligada com o bloco que viria a formar o subcontinente indiano. Cerca de 88 milhões de anos atrás, Madagascar e a Índia se separaram – Madagascar se manteve como uma grande ilha isolada e o bloco que formaria o subcontinente indiano continuou sua viagem de milhões de anos até se chocar com o Sul da Ásia. 

Assim como aconteceu com outros grandes blocos de terra que se mantiveram isolados de outros continentes como a Austrália e a Nova Zelândia, a Ilha de Madagascar também acabou desenvolvendo uma fauna única, diferente de qualquer outra parte do mundo. Cerca de 90% das espécies da ilha são endêmicas. Dois exemplos das formas animais únicas de Madagascar são os lêmures, uma classe de primatas autóctone da Ilha, e as fossas, um mamífero carnívoro que se assemelha fisicamente aos grandes felinos, mas que, na realidade, é aparentado com as fuinhas europeias

Originalmente, 90% do território malgaxe era coberto por florestas tropicais – atualmente, restam entre 10 e 15% das florestas. Segundo estimativas de Alexandre Georget, Ministro do Meio Ambiente do país, “caso a destruição continue nesse ritmo, daqui a 40 anos Madagascar terá o seu território completamente desmatado“. 

Com uma população na casa dos 24 milhões de habitantes, Madagascar é um dos países mais pobres do mundo e, não por acaso, é uma das ex-colônias da França na África. A pressão econômica da população contra as florestas está na raiz da devastação ambiental da Ilha. As queimadas para a abertura de campos para agricultura de subsistência, a extração de madeiras para exportação e a produção de carvão vegetal são as atividades que lideram os desmatamentos. 

Um dos principais produtos agrícolas de Madagascar é o arroz, que é plantado em pequenos lotes com menos de 2 hectares. Esses lotes têm sua cobertura vegetal derrubada e queimada, numa prática conhecida pelos malgaxes como “tavy”, muito parecida com a nossa coivara. Esses lotes produzem no máximo por um período de 2 anos, quando então são abandonados para um período de “descanso” entre 4 e 6 anos. Passado esse período, o lote volta a ser plantado. Esse ciclo de uso da terra dos lotes pode ser repetido de 2 a 3 vezes, quando então a terra é abandonada por absoluta falta de fertilidade e novos trechos de matas nativas serão transformados em lotes agrícolas. 

Além do arroz, o país tem uma importante produção de café, item que responde pela maior fatia das exportações da Ilha. Também são destaques a produção de cana-de-açúcar, mandioca e de frutas como bananas, laranjas, maçãs e abacaxis. Também são comuns as criações de ovelhas, cabras, galinhas e porcos. No campo da mineração, uma atividade que costuma ser devastadora para o meio ambiente, Madagascar só dispõe de algumas reservas de tungstênio. 

Outra fonte importante de desmatamentos em Madagascar é a exploração madeireira, que muitas vezes é feita dentro das poucas áreas de florestas protegidas. Algumas das madeiras nativas de Madagascar como o ébano e o rosewood possuem um altíssimo valor no mercado internacional, com preços chegando à casa do US$ 2 mil por tonelada. Contando com uma legislação ambiental fraca e com uma rede de autoridades facilmente corrompíveis, o contrabando de madeiras “corre solto” na Ilha. 

Por fim, e não menos devastadora, a produção de carvão vegetal e lenha avança sobre as árvores que não têm um grande valor comercial, especialmente as árvores das chamadas “florestas espinhentas” formadas por árvores da espécie Allauadia. A lenha e o carvão são vendidos livremente na beira das estradas e são usados como fonte de energia para se cozinhar pelas famílias das vilas e aldeias do país. 

Madagascar é cortada pelo Trópico de Capricórnio e possui um clima predominantemente tropical, caracterizado por uma forte temporada de chuvas nos meses do verão. Como a maior parte da Ilha foi desflorestada, os processos erosivos arrastam, todos os anos, milhões de toneladas do que restou dos solos férteis da ilha, comprometendo cada vez mais a produção agrícola de subsistência das famílias malgaxes. Esses processos também resultam no assoreamento de rios e riachos por toda a Ilha, resultando em enchentes generalizadas em algumas regiões. 

A situação da Ilha de Madagascar pode ser definida como autofágica, palavra de origem grega que significa “comer a si próprio”. A pobreza de muitos e a esperteza de uns poucos está levando toda a Ilha a um ponto de destruição sem volta – dentro de poucos anos não haverá mais solos férteis para a agricultura e criação de animais, além de não existirem mais árvores para exploração madeireira e produção de carvão e de lenha. 

Para finalizar, deixo uma pergunta: quando foi a última vez que você ouviu a ativista teen Greta Thunberg ou o Presidente da França, Emannuel Macron, falando da trágica situação da floresta tropical de Madagascar? 

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