O ROMPIMENTO DA BARRAGEM EM BRUMADINHO, OU SERIA UMA CRÔNICA DE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA?

brumadinho

No início da tarde desta sexta-feira, dia 25 de janeiro, fomos surpreendidos com a notícia do rompimento de mais uma barragem de rejeitos da empresa Vale do Rio Doce, desta vez na cidade de Brumadinho, distante pouco mais de 60 km de Belo Horizonte, em Minas Gerais. 

Segundo as informações divulgadas, a barragem do Córrego do Feijão se rompeu no início da tarde, liberando grandes volumes de rejeitos, que atingiram a área administrativa da unidade da Vale do Rio Doce e também parte da Comunidade da Vila Ferteco. O Córrego do Feijão é um afluente do rio Parauapebas 

Até o momento, as informações da Defesa Civil de Minas Gerais falam em pelo menos 7 mortes. A Vale do Rio Doce informa que havia 424 pessoas no local do acidente – 150 ainda estão desaparecidas. Infelizmente, ao longo das próximas horas e dias, teremos boletins informando o número real de vítimas, que tende a ser bem maior do que o número já anunciado. 

Esse novo acidente nos traz à lembrança a tragédia social e ambiental que foi provocada pelo rompimento da Barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues em Mariana, também em Minas Gerais. A semelhança é ainda maior quando lembramos que a mesma empresa, a Vale do Rio Doce, é uma das sócias da Samarco Mineração, a empresa responsável pela operação da Barragem de Fundão.  Outros acidentes semelhantes que podemos citar foram o de Barcarena, no Pará, e o de Cataguases, também em Minas Gerais.

O acidente de Mariana, que ocorreu em 5 de novembro de 2015, deixou um saldo de 19 mortos e centenas de desabrigados. O rompimento dessa barragem de rejeitos de mineração provocou o vazamento de 62 milhões de metros cúbicos de lama, ferro, manganês e outros resíduos minerais. Uma verdadeira onda de lama se espalhou por toda a calha do rio Doce até sua foz no Oceano Atlântico, na cidade de Linhares no Espírito Santo. Já se passaram mais de três anos e o rio Doce ainda não conseguiu se recuperar. Milhares de famílias ribeirinhas, pescadores e também os antigos moradores do Distrito de Bento Rodrigues ainda sofrem as consequências da tragédia. 

A tragédia da Barragem de Fundão produziu uma série de mudanças nos sistemas de fiscalização e controle das barragens de rejeitos da mineração nos últimos anos. Essa questão foi tema de um recente Workshop – “Gestão de barragens de rejeitos de mineração”, como parte dos eventos do CBMINA – Congresso de Minas a Céu Aberto e Subterrâneas. O evento foi organizado pelo IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração, e pela UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais e realizado na cidade de Belo Horizonte no início do mês de agosto de 2018. 

De acordo com os dados do setor disponibilizados, existem hoje no Brasil 786 barragens de rejeitos, sendo que 417 dessas estruturas estão inseridas na PNSB – Política Nacional de Segurança de Barragens – em 2013, estavam cadastradas no PNSB 243 barragens em todo o país.

O número de barragens classificadas como de alto risco de acidentes em 2013 era de 41 – esse número baixou para 7 em 2018. Existem 36 barragens classificadas como de médio risco e 374 como de baixo risco. Entre os Estados, Minas Gerais continua na liderança em número de barragens de rejeitos com 355 estruturas seguido pelo Pará, com 109 e por São Paulo, com 79 barragens.  

Entre os anos de 2001 e 2018, seguindo os palestrantes, foram registrados 35 acidentes com barragens de rejeitos de mineração em todo o mundo, numa média de quatro acidentes por ano e destes, pelo menos um acidente á considerado de grande proporção. No Brasil, foram registrados cinco acidentes no período, incluindo-se na lista o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, no ano de 2015.  

As perguntas que ficam: a Barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, estava listada entre as sete barragens com alto risco de rompimento? A Vale, em função do desastre anterior em Mariana, não melhorou seus procedimentos de segurança nas suas barragens de rejeitos de mineração? A barragem tinha algum sistema de sirenes para alertar a vizinhança do rompimento da estrutura? 

Esperemos que o tempo traga as respostas a estas e a muitas outras perguntas e que, desta vez, os culpados pelo acidente sejam efetivamente e exemplarmente condenados. 

Por hora, resta-nos torcer por um menor número de vítimas e que os danos ao meio ambiente não sejam tão grandes como em outras catástrofes semelhantes. 

 

32 Comments

  1. […] Nos últimos vinte anos, as perspectivas de ganhos econômicos com a exploração das diversas reservas de carvão do país, passaram a representar a esperança de um futuro melhor para a população de Moçambique. Uma dessas reservas está localizada na província de Tete, na região central do país. Chamada de Bacia Carbonífera de Moatize, essa reserva mineral possui uma das maiores jazidas de carvão do mundo, com volumes estimados em, aproximadamente, 2,5 bilhões de toneladas. Diversas empresas multinacionais do setor de mineração implantaram grandes projetos na região. Entre elas, uma velha conhecida de todos nós: a Vale do Rio Doce.  […]

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  2. […] Por razões de segurança, essas barragens de rejeitos precisam ser monitoradas constantemente por pessoal técnico especializado, ocasiões onde são emitidos laudos que comprovam a sua estabilidade e segurança. Infelizmente, mesmo com todo o cuidado do mundo, existem inúmeros fatores que podem levar uma barragem ao colapso – movimentações de solo, excesso de fluidez nos rejeitos, temporais, terremotos, etc. Todos devem recordar de dois grandes acidentes recentes com barragens de mineração – os casos de Mariana e de Brumadinho.  […]

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