Com uma área de pouco mais de 3,2 milhões de km², a Índia abriga a segunda maior população do planeta – 1,3 bilhão de habitantes; para efeito de comparação, o Brasil tem um território duas vezes e meia maior, com uma população seis vezes menor – somos pouco mais de 200 milhões de habitantes, ocupando um extenso território com mais de 8,5 milhões de km².
Esse “mar de gentes” indiano, é claro, cria uma incomparável demanda por água, alimentos, sistemas de saúde, educação, segurança e saneamento, além da criação de empregos em massa – de acordo com dados oficiais, a Índia precisaria criar 1 milhão de empregos por mês, somente para atender o crescimento vegetativo da sua população. Infelizmente, as dificuldades para atender todas essas demandas são gigantescas e, literalmente, falta de tudo na Índia. Vamos nos ater à nossa especialidade: água.
A escassez de água, que é um dos grandes desafios da humanidade nesses nossos tempos, na Índia é um drama diário vivido por grande parte da população. Em 1950, a disponibilidade de água por habitante no país era da ordem de 5.177 litros por ano – no ano de 2011, essa oferta caiu para 1.820 litros por ano; para o ano de 2.050, essa disponibilidade deverá cair ainda mais, chegando ao valor de 1.140 litros por ano. As razões para essa forte queda na disponibilidade de água são o grande crescimento populacional, a poluição das fontes de água por esgotos domésticos e industriais, desmatamentos e mudanças climáticas – as famosas “chuvas da monção“, uma fortíssima temporada de precipitações que ocorrem em todo o sudeste asiático, está ficando cada vez mais irregular na Índia.
Sem a regularidade dessas chuvas anuais, muitos dos rios que dependem das reservas de águas subterrâneas dos aquíferos estão ficando cada vez mais rasos e com volumes de água insuficientes para atender as demandas da população, da agricultura e das industrias. Muitos dos grandes rios do subcontinente indiano nascem a partir das águas do derretimento das geleiras nas Himalaias – e até aqui há problemas: a China vem construindo barragens no Tibete (território que foi ocupado pelos chineses na década de 1950 e transformado em território autônomo da China em 1965) e desviando grandes volumes dessas águas das geleiras para o seu próprio território, o que agrava ainda mais a situação da Índia.
Cerca de 70% da população indiana vive em áreas rurais, onde as atividades ligadas à terra – especialmente agricultura e criação de animais, são as grandes geradoras de emprego e renda (vide foto). Calcula-se que 30% das áreas agrícolas do país sejam atendidas por sistemas de irrigação, que vão desde os tradicionais canais de inundação até os sistemas aspersores centrais com pivô, e há uma forte pressão pelo aumento desse percentual com vistas a ampliação da produção de alimentos. Em um país com uma população tão grande, a segurança alimentar, que já não é das mais satisfatórias, é uma prioridade. O grande problema da Índia é que não existe qualquer disponibilidade de água para atender essa demanda por novos sistemas de irrigação na agricultura.
A grande maioria dos sistemas de irrigação do país é alimentada por água captada em aquíferos subterrâneos, acessada a partir de poços. De acordo com reportagem recente do jornal local Economic Times, até cerca de 50 anos atrás, os agricultores da região de Gujurat, no Norte da Índia, alcançavam as reservas subterrâneas de água em poços com profundidades entre 10 e 12 metros – atualmente, muitos dos poços precisam atingir uma profundidade de até 400 metros para que se encontre água em pequenas quantidades. Isso demonstra que a recarga dos lençóis e aquíferos subterrâneos de água está aquém do consumo e grande parte das áreas rurais do país já vive numa situação de estresse hídrico.
Sem outras alternativas, as autoridades indianas terão de se esforçar muito e atacar dois problemas básicos: estimular da melhor maneira possível, o uso racional de água nos sistemas de irrigação (que em muitos casos têm perdas de mais de 50%) e ampliar ao máximo os sistemas de coleta e tratamento de esgotos, domésticos e industriais, problema que está destruindo boa parte das fontes de água superficiais do país.
Os desafios da Índia nessa área são, simplesmente, gigantescos.
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