NAVEGANDO PELOS RIOS TAPAJÓS, TELES PIRES E JURUENA

Alter do Chão

O rio Tapajós nasce no Norte do Estado do Mato Grosso e se forma a partir da confluência dos rios Juruena e Teles Pires (que recebe o nome de São Manuel em alguns mapas antigos). Com um percurso total de pouco mais de 800 km de extensão, o rio Tapajós pode ser definido como um “anão” Amazônico. A natureza, porém, foi generosa com o Tapajós e para compensar a sua pequena (em termos Amazônicos) extensão, colocou nas proximidades de sua foz aquela que é considerada a praia fluvial mais bonita do mundo: Alter do Chão (vide foto). 

Alter do Chão é uma vila de pescadores, que é chamada por todos que a visitam de o “Caribe da Amazônia“. Com praias de areias finas e águas claras e quentes, é, de longe, a maior atração turística de Santarém, uma importante cidade do Estado do Pará as margens do rio Amazonas, distante cerca de 30 km. A melhor época para se visitar este cenário tropical paradisíaco é entre os meses de agosto e dezembro, quando o nível do rio diminui e os bancos de areia e as praias ficam à vista, mostrando todo o esplendor das margens do rio Tapajós. Um outro cenário que não pode ficar fora do roteiro dos turistas é o encontro das águas cristalinas do rio Tapajós com as águas barrentas do rio Amazonas. Aqui vale uma informação adicional – o Tapajós é o único afluente do rio Amazonas com águas totalmente cristalinas. 

O rio Tapajós é navegável desde a foz no rio Amazonas até a região de São Luís do Tapajós, numa extensão total de 280 km. Desde trecho a montante, o rio se apresenta com corredeiras, afloramentos rochosos e cachoeiras, obstáculos naturais para o avanço da navegação e que só poderão ser superados com obras de infraestrutura. 

É bastante provável que você, neste momento, esteja mais interessado em saber mais sobre as praias de Alter do Chão e muito pouco preocupado com a navegação pelo rio Tapajós. Entretanto, para milhares de produtores de soja do Estado de Mato Grosso, a ampliação das possibilidades de navegação no rio, especialmente para o transporte de cargas, é fundamental. Vários rios importantes de Mato Grosso correm na direção do rio Tapajós e poderão, num futuro próximo, se transformar em importantes hidrovias para o escoamento da produção agrícola, especialmente da soja. Destacam-se nessa lista os rios Teles Pires, que em mapas mais antigos aparece com o nome de São Manoel, e Juruena. 

O rio Teles Pires tem aproximadamente 1.400 km de extensão, com nascentes na Serra de Paranatinga, no Centro-Sul do Estado de Mato Grosso. O rio corre rumo ao Norte, ladeado por imensas plantações de soja, milho e algodão, além de extensas áreas de pastagens, até se juntar como o rio Juruena para formar o rio Tapajós. A navegação é possível em alguns trechos intercalados, porém, a existência de inúmeros obstáculos naturais impedem uma integração com o rio Tapajós. 

Existem planos para a construção de uma série de usinas hidrelétricas ao longo do rio Teles Pires que, uma vez concluídas, permitirão a navegação integrada com o rio Tapajós, formando uma importante hidrovia. Uma destas usinas hidrelétricas, a de São Manuel, já está em construção; em fase de estudos e de projeto temos as Usinas Hidrelétricas Magessi, Sinop, Colíder, Teles Pires e Foz do Apiacás. Conforme já comentamos em postagem anterior, o licenciamento e a construção de barragens de usinas hidrelétricas, especialmente na região da Amazônia, é extremamente complexo e problemático, envolvendo problemas que vão desde o bloqueio da migração dos peixes de piracema até o alagamento de terras dentro de reservas indígenas. É preciso encontrar um difícil ponto de equilíbrio entre os ganhos econômicos e o conforto gerado em nossas casas pelo uso da energia elétrica com os graves impactos sociais e ambientais criados com a formação das represas. 

As nascentes do rio Juruena ficam no Oeste do Mato Grosso, na Serra dos Parecis, no lado oposto às nascentes do rio Guaporé, sobre o qual falamos algumas postagens atrás. O rio, cheio de curvas e meandros em seu alto curso, percorre uma distância total de mais de 1.200 km, recebendo contribuições de inúmeros tributários e se transformando em um curso d’água caudaloso. 

Estimativas de entidades ruralistas de Mato Grosso, estimam que o rio Juruena tem potencial para o transporte de mais de 38 milhões de toneladas de soja e 31 milhões de toneladas de milho; no rio Teles Pires, o potencial para o transporte de cargas é ainda maior: o volume de soja pode superar o total de 53 milhões de toneladas e o de milho 43 milhões de toneladas. De acordo com as entidades ruralistas, a criação de uma infraestrutura hidroviária completa nos rios Teles Pires, Juruena e Tapajós, possibilitaria o escoamento de parte considerável da produção de grãos do Mato Grosso através dos portos de Santarém e Vila do Conde, com uma redução de 50% no custo do frete. Serão necessários muitos estudos técnicos e inúmeros relatórios de impactos ao meio ambiente até que isso se torne uma realidade. 

O trecho do baixo rio Tapajós tem uma extensão de aproximadamente 320 km, indo desde a cachoeira de São Luís, até a foz no rio Amazonas. No trecho final, com aproximadamente 100 km, o rio Tapajós se abre, formando um grande estuário, onde a distância entre as margens pode atingir 20 km. Esta região possui inúmeras ilhas cobertas por densa vegetação. Conforme vai se aproximando de sua foz, o rio Tapajós vai formando um canal afunilado, que atinge uma largura de aproximadamente 1,1 km nas proximidades de Santarém – a turbulência gerada pelas águas neste trecho pode formar ondas de até 40 centímetros. 

No trecho que já conta com transporte de cargas no rio Tapajós, estão autorizadas as operações com comboios de barcaças com até 210 metros de comprimento e 32 metros de largura, além de 3 metros de calado. O volume total de cargas nesses comboios é de 900 toneladas. Nos trechos navegáveis isolados do rio Teles Pires, os comboios de cargas são um pouco menores, com até 210 metros de comprimento e 21 metros de largura, além de um calado de 3 metros. O porto da cidade de Itaituba, no Sudoeste do Pará, é o ponto de embarque dos carregamentos de grãos vindos de regiões do interior paraense e de Mato Grosso. As Rodovias BR-320, a famosa Rodovia Transamazônica, e a BR-163, mais conhecida como Cuiabá-Santarém, são as principais ligações rodoviárias com o Porto de Itaituba. 

As primeiras povoações às margens do rio Tapajós datam de meados do século XVII, quando os portugueses buscavam garantir a hegemonia na região, que pertencia à Coroa de Espanha pelo Tratado de Tordesillas. Mas foi apenas a partir de meados do século XIX, durante o Ciclo da Borracha, que as margens do Tapajós ganharam uma importância regional, conforme já tratamos em outras postagens. Em décadas mais recentes, as margens do rio Tapajós viraram notícia recorrente nos meios de comunicação devido aos garimpos ilegais de ouro e aos desmatamentos nas áreas mais próximas da Rodovia Transamazônica, eixo de transportes criado ainda nos tempos do Regime Militar e que trouxe centenas de milhares de migrantes para o Pará, sob a promessa de terras e de uma nova vida – “uma terra sem homens, para homens sem-terra”, dizia um dos slogans da época. 

Entre corte de árvores, queimadas, avanço da agricultura e da pecuária, invasão de terras indígenas, conflitos agrários entre fazendeiros e posseiros, entre problemas, esperemos que a futura estruturação da Hidrovia Tapajós/Teles Pires/Juruena traga boas novas para a região. 

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