Nas minhas últimas publicações, falamos sobre o rompimento da barragem de rejeitos de mineração na cidade de Mariana e de seus impactos em toda a bacia hidrográfica do rio Doce. Para demonstrar que este incidente não foi tão acidental como muitas vozes (especialmente do lado dos responsáveis pela construção e operação da barragem), mostrei alguns aspectos do Direito Ambiental e do processo administrativo do Licenciamento Ambiental – tanto a empresa proprietária do empreendimento quanto os responsáveis técnicos tinham (ou pelo menos deveriam ter) consciência dos riscos envolvidos e deveriam ter tomado todos os cuidados necessários para evitar que se chegasse ao desastre (Princípios da Prevenção e da Precaução). Infelizmente, como é do conhecimento de todos, a barragem ruiu e causou enorme destruição ambiental, provocando enormes prejuízos econômicos e sociais. É hora de seguir em frente e tentar recuperar-se dos prejuízos da melhor maneira possível e buscar as punições legais cabíveis aos responsáveis.
Dentro deste processo de reconstrução, é fundamental realizar inúmeros estudos para que se possa entender os problemas que surgiram e, assim, buscar alternativas para solucioná-los. O título desta postagem faz referência a um estudo publicado pelo Greenpeace (clique neste link para consultar), uma das mais respeitáveis organizações conservacionistas do mundo, referente à possível contaminação de lençóis subterrâneos de água nas regiões impactadas pelo rompimento da barragem de rejeitos de mineração em Mariana, Minas Gerais.
O estudo foi realizado entre os meses de junho de 2016 e janeiro de 2017, realizando análises laboratoriais em amostras de água coleta em diversos poços das regiões impactadas e medindo a presença de metais pesados nas amostras. Os chamados metais pesados são metais individuais e compostos metálicos que podem impactar a saúde humana, acumulando gradativamente no organismo e são difíceis de serem eliminados. Provocam inúmeras doenças como o câncer, doenças cardiovasculares, doenças degenerativas como o mal de Alzheimer, doença de Parkinson, entre outras. Os principais mecanismos de entrada destas substâncias no organismo humano se dão pela ingestão de alimentos e água contaminada, também podendo ocorrer pela inalação de gases contaminados. Entre os metais pesados incluídos neste estudo encontramos: mercúrio, chumbo, cádmio, manganês, níquel, ferro, estanho, cromo e arsênico (classificado como semi metal).
Os metais pesados estão presentes na vida dos seres humanos há milhares de anos e, por falta de conhecimentos sobre os seus perigos, causaram inúmeras mortes pelas mais diversas doenças e males. Desde o século XIX, com os avanços do conhecimento científico, especialmente na área da química, os efeitos nocivos destas substâncias passaram a ser conhecidos e seus usos e aplicações passaram a ser controlados com maior rigor pelas autoridades governamentais, indústrias, comerciantes e agricultores.
Nas áreas urbanas dos municípios atravessados pelo rio Doce, onde as populações majoritariamente são abastecidas com água tratada em ETA’s – Estações de Tratamento de Água, existem controles de qualidade realizados por técnicos em laboratório, que monitoram sistematicamente amostras coletadas nas saídas dos sistemas de tratamento – sempre que algum problema ou contaminação é detectado, são tomadas providências para a correção dos processos de purificação, podendo-se inclusive suspender o abastecimento até que o problema seja controlado. Nas áreas rurais, onde as populações captam a água usada no abastecimento das residências, dessedentação de animais, irrigação de lavouras, entre outros usos, diretamente em nascentes de rios e riachos, de poços artesianos e semi artesianos ou ainda de grandes rios (neste caso para a irrigação), não existe qualquer controle de qualidade e existem grandes riscos de contaminação por estes metais pesados. Somente para relembrar, no vazamento da barragem, foram despejados 62 milhões de metros cúbicos de lama contaminada com rejeitos minerais, entre os quais os metais pesados da lista informada. Ao atingir as águas do rio Doce, estes metais pesados foram se acumulando sobre a camadas de sedimentos do fundo do leito – ao longo da calha do rio existem vários trechos com alta porosidade, através dos quais é feita a recarga de diversos aquíferos: são justamente estes pontos de recarga que podem ter permitido a infiltração destes metais pesados e a inevitável contaminação das águas subterrâneas.
As amostras de água usadas no estudo foram coletadas em 48 pontos distintos ao longo do Rio Doce, em três cidades afetadas pelo rompimento da barragem – Belo Oriente e Governador Valadares, em Minas Gerais e Colatina, no Espírito Santo.
– Belo Oriente está localizada a 214 km de Mariana. As amostras foram coletadas na localidade de Cachoeira Escura e também nos municípios vizinhos de Bugre e Naque, num total de 16 amostras, entre água de poços e do rio Doce;
– Governador Valares, localizada a aproximadamente 302 km de Mariana. Foram coletadas 16 amostras em pontos do distrito de Baguari, incluindo as Ilhas Fortaleza e Pimenta;
– Colatina, cidade localizada no Estado do Espírito Santo, a aproximadamente 427 km de Mariana, numa das regiões em que os produtores rurais mais dependiam das águas do rio Doce. Foram coletadas amostras em 16 pontos na região de Porto Belo, Itapina e Maria das Graças.
Nas amostras analisadas foram encontradas quantidades significativas dos metais pesados listados, porém, dentro dos limites considerados seguros para o consumo humano pela legislação. Dois metais pesados, o ferro e o manganês, foram encontrados em níveis acima do permitido pela legislação em alguns trechos, o que recomenda atenção e monitoramento das autoridades.
Como é usual em trabalhos científicos, os responsáveis pelo estudo e pelas análises afirmam que “não podemos afirmar que os poços sofreram contaminação por conta da lama proveniente da barragem rompida da empresa Samarco por falta de estudos prévios na região”. O bom senso, ao contrário, diz que se há pegadas de elefante, marcas de presas de elefante nas árvores e, especialmente, grandes quantidades de estrume de elefante pelo chão, é certeza que devem existir elefantes por perto, mesmo que você não os avistem.
O dito popular diz que, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Então. muito cuidado a todos.
[…] altura da cidade de Linhares, no Espírito Santo, mostram que houve uma redução nos níveis de metais pesados, porém, ainda se encontram em níveis superiores aos limites estabelecidos pela legislação. A […]
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[…] chumbo, só para lembrar, é um metal pesado muito usado na fabricação de tintas e baterias automotivas, entre inúmeras outras aplicações, […]
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[…] dos principais problemas do rio atualmente é a presença de metais pesados em suas águas. Entre os metais pesados destacam-se o mercúrio, chumbo, cádmio, manganês, níquel, ferro, […]
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