Quando os primeiros padres jesuítas chegaram ao Planalto de Piratininga no início da década de 1550, encontraram uma região com uma extensa rede hidrológica e que tinha como rio principal o Anhembi, nome depois mudado para Tietê. A região possuía uma enormidade de rios de porte médio como o Tamanduateí, Anhangabaú e Pinheiros, e também centenas de córregos e riachos. As áreas de várzeas destes cursos d’água eram formadas por campos alagáveis nas épocas de chuvas, especialmente a várzea do sinuoso Anhembi, e, por esse motivo, apresentavam solos altamente férteis, que já eram utilizados pelos indígenas no cultivo de suas culturas de subsistência. A fartura de águas, a fertilidade dos solos, o clima agradável e a boa receptividade dos indígenas liderados por um náufrago português – João Ramalho, foram fundamentais para a escolha do local para a instalação da futura Vila de São Paulo de Piratininga, fundada oficialmente em 25 de janeiro de 1554 pelo grupo liderado pelo padre José de Anchieta.
Quem visita ou vive na moderna cidade de São Paulo e vê os rios Tietê, Tamanduateí e Pinheiros com águas completamente poluídas e seus cursos totalmente retificados, não pode imaginar a importância que estes rios tiveram para o abastecimento de água, para a agricultura e para o transporte de cargas e passageiros até o início do século XX. Para citar um único exemplo das mudanças, a atual Rua 25 de Março, uma das ruas de comércio mais movimentadas e importantes da cidade, era um braço navegável do Rio Tamanduateí – barcos repletos de mercadorias chegavam e partiam de um porto fluvial localizado na atual Ladeira Porto Geral. O mesmo morador ou visitante também poderá ficar atordoado ao procurar pelas centenas de antigos riachos e córregos de águas cristalinas que rasgavam o Planalto de Piratininga por todos os lados – dependendo da fonte consultada, você encontrará relatos que falam de 300 a 2.000 corpos d’agua no município; nos dias atuais só encontramos algumas dezenas de cursos moribundos: a grande maioria desapareceu após obras de canalização.
Por mais incrível que possa parecer, essa terra de tantas águas cristalinas e puras de outrora, hoje depende das águas de rios com nascentes a mais de 150 km de distância no Sul do Estado de Minas Gerais, formadores do Sistema Cantareira, para o abastecimento de sua gigantesca população. Até mesmo as grandes represas Billings e Guarapiranga, construídas no início do século XX, concebidas inicialmente para funções ligadas à geração de energia elétrica e depois transformadas em mananciais de abastecimento, passaram a ter a qualidade de suas águas comprometidas. A destruição dos rios, córregos e represas tem um elemento em comum – altas concentrações de todos os tipos de esgotos em suas águas.
Como deve ser do conhecimento de muitos de vocês, a cidade de São Paulo até meados do século XIX era apenas mais uma entre muitas cidades pequenas e sem maiores atrativos do Planalto de Piratininga. O censo demográfico de 1872 encontrou parcos 30 mil habitantes espalhados em diversos vilarejos do município, vivendo basicamente da agricultura, da criação de animais e do comércio. Foi o crescimento da importância da cultura cafeeira nas últimas décadas do século XIX e a passagem das ferrovias que ligaram o Porto de Santos aos centros produtores no interior do Estado que colocaram, “acidentalmente”, a cidadezinha no mapa – em 1900 a cidade de São Paulo já tinha uma população de 240 mil habitantes.
Essa repentina “descoberta” da cidade de São Paulo foi seguida de um grande crescimento populacional, o que produziu uma fortíssima demanda por terrenos para a construção de casas, lojas e galpões. As antigas e bem localizadas áreas de várzea da região central da cidade (vide foto), que tinham na extração de areia para a construção civil uma das suas únicas atividades econômicas, passaram a ser cobiçadas para a especulação imobiliária – os grandes rios passaram a ter seus cursos retificados e começou um intenso processo de canalização de córregos e riachos, visando “criar” artificialmente uma série de grandes espaços para o avanço da urbanização e construção das chamadas avenidas de fundo de vale. Os terrenos das várzeas sempre tiveram uma grande importância no controle das cheias anuais dos rios nos períodos de chuvas, função que foi simplesmente desprezada: as enchentes que assistimos na Paulicéia “desvarzeada” (faço aqui trocadilho com Paulicéia Desvairada, célebre livro de poemas de Mário de Andrade) do presente é parte do preço que pagamos por todo este crescimento irracional do nosso passado.
Na esteira dos novos imóveis construídos, centenas de quilômetros de tubulações de esgotos foram enterradas por todos os cantos da cidade, buscando sempre os antigos cursos d’água para o despejo dos efluentes. O crescimento irracional e sem qualquer planejamento virou uma espécie de marca registrada da cidade e praticamente todos os cursos d’água que nascem ou que atravessam o município de São Paulo estão com suas águas altamente contaminadas por esgotos.
E foi assim, com muito improviso, ganância e irresponsabilidade, que começou a ser criada a “Rede Coletora de Esgotos” da maior cidade brasileira.
[…] cidade do país já nas primeiras décadas do século XX. Esse crescimento rápido se deu com a canalização forçada de centenas de córregos (ou “córgos” no dialeto local), ocupação de […]
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[…] Março, um dos centros de comércio popular mais movimentados e importantes do país já foi um porto fluvial. Até os últimos anos do século XIX, existia um braço navegável do Rio Tamanduateí naquela […]
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[…] terras do Planalto de Piratininga, que vem de encontro a esse estudo, era a grande quantidade de nascentes e cursos d’água que existiam na região – conforme já comentamos em postagens anteriores, as áreas de […]
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[…] Canalizando os lucros dos grandes cafeicultores do interior do Estado, a cidade começou a crescer rapidamente, recebendo gente de todo o mundo. Os grandes contingentes de imigrantes estrangeiros que foram recrutados para trabalhar nas plantações de café, passavam obrigatoriamente pela cidade de São Paulo – alguns acabavam ficando por aqui e outros voltariam mais tarde. Com o crescimento da cidade, passou-se a uma busca frenética por terrenos para a construção de casas, hotéis, lojas, galpões e, mais tarde, fábricas. As várzeas e margens dos muitos córregos que cortavam a cidade passaram a ser vistas como áreas com enorme potencial para receber todas essas construções. Então, sem maiores estudos e preocupações ambientais, córregos e rios passaram a ser canalizados e aterrados – a cidade, literalmente, cresceu por cima dessa imensa rede hídrica. […]
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[…] de Piratininga, a poluição das águas e a canalização em massa de riachos e córregos, os habitats naturais e as capivaras foram desaparecendo da […]
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[…] AS CAPIVARAS DOS RIO… em SÃO PAULO: A CIDADE QUE DESTRU… […]
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[…] – o rio passou a ser conhecido como Tamanduateí ou “o rio dos tamanduás”. Já o rio Anhangabaú, palavra que significa “água dos maus espíritos”, era um lugar considerado mal-assombrado […]
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[…] Essas agressões incluem a poluição das águas por efluentes líquidos e resíduos sólidos, a urbanização, a agricultura e os resíduos de fertilizantes e agrotóxicos, a construção de barragens dos mais […]
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[…] tinha uns 10 ou 11 anos de idade quando vi uma reportagem na TV falando dos problemas de poluição no rio Tietê, que naqueles tempos cresciam a olhos vistos. A certa altura, o repórter começou a conversar […]
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[…] o crescimento da mancha urbana, muitas áreas de várzea passaram a ser aterradas, permitindo assim a liberação dos terrenos para a construção de novas casas, armazéns e […]
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[…] UM DIA DE CAOS EM SÃ… em SÃO PAULO: A CIDADE QUE DESTRU… […]
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[…] cidade de São Paulo, a antiga várzea do rio Tietê foi, durante muito tempo, a principal fornecedora da areia usada na construção da cidade. Com o aterramento das várzeas para a ampliação das áreas para […]
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[…] XVI, época da chegada dos primeiros padres jesuítas e fundação de diversas vilas no chamado Planalto de Piratininga. Essa região era formada por uma grande mancha de vegetação de Cerrado, cercada por uma densa […]
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[…] a população da cidade de São Paulo. Conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, a cidade de São Paulo cresceu ocupando as várzeas e as margens dos seus rios – as grandes enchentes são uma resposta da natureza a todas essas agressões […]
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[…] Aqui na minha cidade, São Paulo, essa época do ano também costuma ser problemática. A cidade cresceu demais, derrubando matas, canalizando córregos, avançando sobre as encostas de morros e, especialmente, ocupando as antigas várzeas dos grandes rios. […]
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[…] Na última postagem falamos rapidamente dos problemas no abastecimento de água para a população de São Paulo e de cidades vizinhas da Região Metropolitana. As abundantes fontes de água dos primeiros tempos da cidade – algumas citações antigas chegam a falar de 2 mil riachos, ribeirões e rios no município, foram destruídas ao longo do crescimento da cidade. […]
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[…] Paulo, um dos maiores crimes ambientais cometidos foi um avanço desmedido contra as importantes áreas de várzea dos grandes rios da cidade como o Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. Essas áreas alagáveis […]
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