A RIZICULTURA NO BAIXO RIO SÃO FRANCISCO E O AVANÇO DA SALINIZAÇÃO DAS ÁGUAS

Rizicultura

O arroz é uma planta da família das gramíneas e produz o grão responsável pela alimentação de mais da metade da população do mundo. A produção e o consumo de arroz só são superados pelo trigo e pelo milho. Além de fácil preparo, o arroz é um alimento saboroso e saudável, constituído principalmente por carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e minerais. No Brasil, o arroz faz parte da alimentação diária de milhões de pessoas – estudos indicam que 95% dos brasileiros consomem arroz e mais da metade o fazem no mínimo uma vez por dia. O arroz forma uma dupla perfeita com todos os tipos de feijão, um hábito alimentar que faz parte da identidade cultural de todos brasileiros.

O cultivo do arroz requer água em abundância e necessita de cuidados especiais para se manter a temperatura da planta em condições ideais. As áreas marginais na região do baixo Rio São Francisco vem se transformando em um pólo de rizicultura (nome técnico da produção do arroz) nos últimos anos e está gerando emprego e renda para centenas de pequenos agricultores. A produção de arroz na região do baixo Rio São Francisco, apesar de pouco significativa diante da produção nacional do grão, é de extrema importância econômica e social a nível regional. Com incentivos do Governo Federal, diversos projetos foram implantados na região, com destaque para os perímetros irrigados Boacica (Igreja Nova), Marizeiro (Penedo), Itiúba (Porto Real do Colégio) e em Piaçabuçu, envolvendo cerca de 800 famílias de pequenos agricultores. No perímetro irrigado Betume, no município de Neópolis, Estado de Sergipe, cerca de 450 pequenos produtores cultivam 1.750 ha de arroz. Em alguns perímetros irrigados, é possível obter duas safras de arroz por ano. Levantamentos iniciais apontam que o perímetro Betume atingiu produtividade média de 10,5 toneladas por hectare, o que é praticamente o dobro da produtividade média nacional de 5,4 toneladas de grãos por hectare.

Ao mesmo tempo em que a cultura do arroz cria novas perspectivas econômicas para as áreas marginais do baixo São Francisco, o avanço das águas salgadas do mar calha do Rio adentro cria grandes preocupações e ilustra de modo inequívoco os problemas da salinização das águas nos usos agrícolas. A presença do sal em grandes quantidades na água utilizada na irrigação mata as plantas e, a longo prazo, pode comprometer a fertilidade dos solos, impossibilitando a produção do arroz e de outras culturas irrigadas. Um exemplo do problema da salinização das águas já pode ser constatado em Piaçabuçu, município alagoano na foz do Rio São Francisco, onde o plantio de arroz já está comprometido.

Historicamente, a vazão média das águas do Rio São Francisco na foz no Oceano Atlântico era de 2.943 metros cúbicos por segundo, o que assegurava ao rio uma extraordinária energia para empurrar e manter as águas salgadas do mar distantes da calha do Velho Chico. As sucessivas agressões ambientais, ao longo de séculos de ocupação das margens de todos os rios que formam a bacia hidrográfica, tiveram como consequência uma redução gradual dos caudais, o que gradativamente se refletiu na redução do volume e na energia das águas que chegam na foz do Rio. Ao longo de todo o século XX, especialmente devido à construção de diversas barragens de usinas hidrelétricas, a redução dos caudais aumentou significativamente, tornando ainda mais crítica a luta das águas do Velho Chico contra o avanço contínuo das águas do mar.

Um longo período de seca na região do Semiárido nos últimos anos teve reflexos intensos na bacia hidrográfica do Velho Chico, que está apresentando um dos mais baixos volumes de águas das últimas décadas. Um exemplo desta situação crítica pode ser observado no lago de Sobradinho, que está em um nível crítico, abaixo de 15% da sua capacidade. Para evitar o eminente colapso da barragem, a CHESF – Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco, com autorização do IBAMA – Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, iniciou no último dia 22 de maio uma redução no volume de água liberado pelas barragens de Sobradinho e de Xingó, reduzindo a vazão para 650 m³/s (menos de 1/4 da vazão histórica média).

Com essa vazão, uma das menores já vistas no baixo Rio São Francisco, o avanço das águas salgadas terra a dentro será ainda mais intenso, afetando diretamente o abastecimento de um número ainda maior de cidades e inviabilizando cada vez mais a irrigação de milhares de hectares de áreas agrícolas.

Esse é o mais novo problema, entre tantos outros, vividos pelo nosso tão sofrido Rio São Francisco.

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