O deserto de Sonora tem altas temperaturas e um índice de precipitação pluviométrica anual abaixo de 76 milímetros, porém conta com alguns trechos de terras muito férteis, formados por sedimentos do Rio Colorado acumulados após inúmeras enchentes ao longo de milhões de anos. O Imperial Valley, na divisa do Estado da Califórnia com o México e no meio do caminho entre o Rio Colorado e as cidades de Los Angeles e San Diego, é um destes lugares.
A paisagem desoladora da região, atravessada por milhares de pioneiros americanos durante a histórica “Marcha para o Oeste” a partir do século XIX, mudou radicalmente no início do século XX após a construção do Canal do Rio Álamo em 1901, substituído em 1942 pelo canal All-American, responsáveis pelo transporte de água desde o Rio Colorado até a região do Imperial Valley. Com a chegada da água e a construção de uma complexa rede de canais de irrigação a partir dos primeiros anos da década de 1900, o antigo deserto foi transformado em milhares de hectares de terras cultiváveis, criando uma das regiões agrícolas mais produtivas dos Estados Unidos.
Um sistema com 2.300 quilômetros de canais de irrigação e 1.800 quilômetros de tubulações passou a distribuir um volume de água correspondente a 83% da cota de água do Rio Colorado a que tem direito o Estado da Califórnia por todo o Imperial Valley. Com fartura de água, terras férteis e muito sol, a região acabou transformada na principal fornecedora de frutas e de vegetais de inverno dos Estados Unidos, produzindo duas colheitas a cada ano, feito raro em um país de clima temperado. A região também é grande produtora de alfafa, vegetal utilizado na alimentação do gado, especialmente nos meses de inverno quando as pastagens naturais ficam cobertas por grossas camadas de neve ou secam.
A intensa utilização de água na irrigação das terras do Imperial Valley, especialmente através do dispendioso processo de inundação de valas, criou um “subproduto” inesperado já nos primeiros anos do século XX – a percolação dos excedentes de água na direção de uma depressão ao Norte levou à formação do Lago Salton, transformado em uma atração turística no meio do deserto. Apesar de toda a beleza cênica, a água formadora do Lago Salton sempre apresentou altos níveis de contaminação por agrotóxicos e fertilizantes utilizados nas plantações, formando uma grossa camada tóxica no fundo de areia. Durante décadas, a lâmina de água do lago manteve estes resíduos tóxicos longe da população.
Durante todo o século XX, o Imperial Valley foi sinônimo de produção farta e o alto lucro no meio de um deserto – enquanto as águas desviadas do Rio Colorado escorriam em abundância através dos canais e tubulações dos sistemas de irrigação, a terra respondia com colheitas crescentes. A partir do ano 2000, todo o Sudoeste dos Estados Unidos passou a enfrentar uma severa seca que, de acordo com especialistas, foi a maior seca na região em 1.200 anos e a Califórnia seria o Estado que mais sofreria as consequências entre os anos de 2010 e 2014.
A forte seca regional começou a afetar os rios formadores dos reservatórios de armazenamento de água de todo o sul do Estado da Califórnia, reduzindo fortemente a oferta de água pelos sistemas produtores e, consequentemente, a disponibilidade de água para abastecimento de cidades importantes como Los Angeles, San Diego e San Bernardino. A partir de 2010, quando a seca atingiu seu auge, grandes cidades do Sul da Califórnia foram obrigadas a impor uma redução compulsória de 25% no consumo de água das famílias, medida inédita na história americana.
Sem fontes de abastecimento alternativas, estas grandes cidades voltaram sua atenção para as águas do Rio Colorado, que desde muito tempo já chegavam ao Sul da Califórnia através de sistemas de transposição e alimentavam parte dos sistemas de abastecimento e distribuição. Porém, entre o Rio Colorado e as cidades havia o Imperial Valley e seus organizados agricultores, que já estavam tendo seus próprios problemas com a redução dos volumes de água disponíveis e que não estavam dispostos a ceder nem mais um mísero litro de água para o abastecimento das cidades.
Começou assim uma verdadeira guerra entre cidades e agricultores na disputa pelas águas do Rio Colorado…
[…] IMPERIAL VALLEY: O MAIOR CONSUMIDOR DE ÁGUA DA CALIFÓRNIA […]
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[…] cada um dos Estados localizados dentro da bacia hidrográfica do rio Colorado. Na Califórnia, o Imperial Valey (vide foto), localizado no Sul do Estado, acabou se transformando no maior consumidor local das […]
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[…] Janeiro. Assim como acontece em outras grandes regiões metropolitanas como São Paulo, Nova York e Los Angeles, os mananciais de água ficam a centenas de quilômetros de distância e são necessárias grandes […]
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[…] do blog existem inúmeros exemplos como os das cidades do Rio de Janeiro, Fortaleza, Nova York, Los Angeles, Cidade do Cabo, Sydney, entre muitas outras, e em países como Israel, Emirados Árabes Unidos e […]
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[…] de 40 milhões de pessoas em sete Estados americanos e quase 90% do total dos seus caudais são desviados para fins de irrigação em 2 milhões de hectares. Sem as águas doces do rio, um pequeno cetáceo que vivia nas águas […]
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[…] em poucos anos. Só que, graças às intervenções involuntárias dos agricultores da região do Imperial Valley, o lago continuou recebendo volumes significativos de água e se manteve […]
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[…] do Rio Colorado a jusante, beneficiando inúmeras cidades e projetos de irrigação como o Imperial Valley, que passaram a contar com volumes constantes de água ao longo de todo o ano, ficando livres das […]
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[…] exemplo da importância das águas do rio Colorado para a agricultura é o Imperial Valley, uma extensa área de produção no Sul da Califórnia. Essa região é considerada a maior […]
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[…] em terras californianas é o uso intensivo de irrigação das culturas a exemplo do que é feito no Imperial Valley, uma extensa área do Deserto de Sonora que foi transformada num grande celeiro agrícola graças a […]
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[…] Sempre que as práticas agrícolas do pequeno país do Oriente Médio são citadas aqui no blog é inevitável não lembrar de uma região que trabalha de forma totalmente diferente na sua produção agrícola – o Imperial Valley no Sul da Califórnia nos Estados Unidos. […]
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[…] Grandes cidades californianas com Los Angeles, San Diego e San Bernardino foram obrigadas a impor uma redução compulsória de 25% no volume de água disponibilizada para seus moradores, ao mesmo tempo em negociaram um aumento das cotas de água do rio Colorado com os agricultores do Imperial Valley. […]
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