E SOBRE OS RATOS – NINGUÉM FALA NADA?

ratos

De tanto falar nos mosquitos Aedes aegypti e de toda uma lista (cada vez maior) de doenças transmitidas por esse vetor, a gente acaba esquecendo de outros vetores importantes. Nessa época de fortes chuvas e das inevitáveis enchentes em cidades de grande parte do Brasil, é importante lembrar dos problemas e doenças associadas aos ratos.

Parte importante do legado das ações sanitárias e higiênicas deixadas pelo trabalho do médico sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) na cidade do Rio de Janeiro nos primeiros anos do século XX, foi o controle das populações de ratos e o combate às epidemias associadas a esse vetor: leptospirose, peste bubônica (também conhecida como peste negra), tifo murinho, febre da mordida do rato e hantaviroses, além de sarnas e alergias.

Antiga capital da colônia (a partir de 1763, substituindo a cidade de Salvador), depois corte real do Império Ultramarino Português, capital do Império do Brasil e, a seguir, capital da República Federativa do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro era na época a maior e mais importante cidade do Brasil, com 800 mil habitantes. Vítima de um crescimento desordenado, com milhares de moradores se espremendo nos infinitos cortiços e ocupando as encostas dos morros e iniciando aquelas que se transformariam em uma das marcas da má distribuição de renda no país – as favelas, a cidade era tomada por surtos frequentes de febre amarela, tuberculose, tifo, peste bubônica e varíola.

À frente da Secretaria da Saúde, Oswaldo Cruz focou as ações da Prefeitura na implantação de infraestrutura de saneamento básico e ações de higienização, combatendo os focos de infestação de mosquitos e ratos. No caso do combate aos ratos, há uma passagem curiosa – as autoridades da área da saúde instituíram um prêmio em dinheiro para as pessoas que levassem ratos mortos até os diversos postos de coleta da Prefeitura. Não tardou muito até que a famosa “malandragem carioca” enxergasse na ação uma oportunidade de ganhar dinheiro: surgiram nos morros os criadores profissionais de ratos, que pagavam comissões para as crianças que se dispusessem a levar os roedores até os postos da Prefeitura para a troca. “Jeitinho” carioca.

Nos meios urbanos encontramos, normalmente, três espécies de ratos: o rato preto ou de telhado, que se alimentam de restos de comida que são jogados no lixo e também de alimentos e rações servidas aos animais domésticos como cães e gatos; o rato cinza ou ratazana (gabiru em muitas regiões), que vive em esgotos e ao longo de córregos; e os camundongos, espécie de ratos pequenos, que vivem em residências e são oportunistas quanto a alimentação, atacando despensas, armários e latas de lixo. As três espécies são transmissoras de doenças.

Uma das formas mais eficientes de se combater os ratos é deixar de alimentá-los: guardar alimentos em embalagens e recipientes bem fechados, recolher os vasilhames de alimentação dos animais e descartar alimentos somente após tê-los embalado (dentro de garrafas PET, em latas, embalagens plásticas etc), de forma que eventuais ratos que visitem o seu lixo não consigam ter acesso ao jantar. Em países desenvolvidos, é comum a instalação de trituradores de lixo nas pias das cozinhas, permitindo a eliminação de restos de alimentos e cascas de frutas e legumes através da rede coletora de esgotos; aqui no Brasil, essa facilidade seria de difícil popularização devido ao alto custo dos equipamentos e da falta de redes coletores de esgotos em grande parte dos domicílios.

A leptospirose, doença infecciosa transmitida pela bactéria do tipo Leptospira presente na urina de ratos, encontra as condições ideais de propagação nos períodos de fortes chuvas, quando a população entra em contato com as águas de enxurradas e pontos de alagamentos. A bactéria Leptospira entra no corpo humano através da pele, pela boca e pelos olhos – é preciso um extremo cuidado com as águas das enchentes. Nos casos mais graves, a leptospirose provoca falência renal, meningite, falência hepática e deficiência respiratória, podendo até levar a morte. As enchentes também forçam os ratos a abandonar suas tocas, aumentando a possibilidade de aproximação com os seres humanos, o que pode resultar em ataques e mordidas.

Além dos providenciais cuidados com os criadouros dos mosquitos, são fundamentais o controle e o combate às infestações de ratos – na falta de ações do poder público, faça a sua parte: não alimente os ratos!

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