PERMEABILIZAÇÃO DO SOLO DAS CIDADES

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Em meu último post afirmei que um dos grandes problemas ambientais das cidades, as enchentes localizadas, tem ligação direta com a escalada da impermeabilização dos solos: quintais concretados no lugar dos antigos jardins, edificações e construções ocupando cada vez mais os espaços urbanos, calçadas a perder de vista, ruas e avenidas asfaltadas – até os tradicionais canais de drenagem naturais como os córregos e rios estão recebendo algum tipo de impermeabilização. Ao invés de explorarmos os problemas criados por essa contínua impermeabilização dos solos, vamos inverter a conversa – vamos falar das alternativas para a permeabilização do solo.

O Parque do Ibirapuera tem 1,5 milhão de metros quadrados e é a área verde mais importante da cidade de São Paulo. Minha mãe cresceu num bairro ao lado do terreno onde está instalado o Parque do Ibirapuera; na época, anos de 1930, o local era um grande brejo e os pais não deixavam que os filhos se aventurassem no lugar – hoje, os imóveis das áreas lindeiras ao Ibirapuera tem o maior valor de mercado da cidade. Atualmente, seria virtualmente impossível que a Prefeitura conseguisse desapropriar uma área equivalente para a construção de um outro Parque do Ibirapuera. Uma solução alternativa e viável economicamente seria a criação de pequenas áreas verdes em toda a cidade – pequenos jardins com área de 10 m²: se conseguirmos implantar 150 mil desses pequenos jardins, criaremos um novo Parque do Ibirapuera “virtual” na cidade; considerando-se o tamanho da cidade, atingir essa cifra de pequenos jardins não é nada difícil – uma boa campanha de conscientização junto à população poderia estimular a remoção de trechos concretados dos quintais e a criação desses pequenos jardins, com forte impacto na permeabilidade do solo da cidade (veja um exemplo na foto que ilustra este post).

O concreto permeável, poroso ou drenante, é constituído de uma mistura de cimento comum (Portland) com agregados graúdos (pedra britada), água e aditivos químicos. Como essa mistura não leva areia como no concreto comum, a massa fica com uma estrutura altamente porosa, facilitando a passagem de água e ar. O concreto poroso pode ser utilizado na pavimentação de calçadas, concretagem de terrenos (muita gente não gosta da “sujeira” criada pelas folhas das plantas), pisos de áreas de estacionamento entre outras, criando novos pontos permeáveis de solo, com capacidade de absorver centenas de milhões de litros das águas pluviais. Os bairros mais urbanizados da cidade de São Paulo, por exemplo, possuem um índice de impermeabilização médio de 80% (cálculos feitos a partir da combinação de dados de sensoriamento remoto de alta e média resolução espacial) – o uso do concreto permeável nas aplicações citadas poderia reduzir essa impermeabilização em pelo menos 10%, o que seria um grande avanço.

A substituição do pavimento asfáltico de ruas menores por blocos de concreto ou ainda pelos antigos paralelepípedos também é uma solução interessante para melhorar a permeabilidade do solo. Ruas de bairros, com baixo tráfego de veículos e onde não há o tráfego de veículos pesados, permitem facilmente essa mudança, sem qualquer tipo de prejuízo para os moradores. Alguns fabricantes de blocos para pavimentação produzem peças coloridas, o que traria um charme a mais para os bairros, fugindo da monotonia do calçamento em tons de cinza e preto. Uma outra vantagem dos pavimentos em blocos e paralelepípedos é a facilidade de remoção e recolocação para a execução de obras subterrâneas – como já comentei em posts anteriores, pela falta de planejamento de nossas cidades sempre haverá a necessidade de cavar uma vala para a instalação de alguma rede de tubulações subterrâneas.

Observem que nenhuma das propostas citadas exigirá investimentos faraônicos (justamente por isso são tão difíceis de sair do campo das idéias) – as cidades estão em constante processo de mudança e manutenção nas ruas e calçamento dos passeios públicos: basta substituir os materiais que serão usados na recomposição. Já as pequenas áreas verdes, essas implicam mais em um processo de educação ambiental do que em custos para as cidades.

Continuamos no próximo post.

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