AS LIÇÕES DO FURACÃO MATTHEW

matthew

Acompanhamos com muita apreensão o avanço do furacão Matthew, que segue desde a região do Caribe rumo ao norte, atingindo a costa leste dos Estados Unidos. No momento em que escrevo, chegam informações que o Matthew atingiu o estado da Carolina do Sul com a intensidade 1 (em uma escala de força que vai até 5). De todos os fenômenos meteorológicos, um furacão (ou tufão na região do Oceano Pacífico) é de longe um dos mais devastadores – chuva e vento fortes combinados tem um poder de destruição inimaginável.

O que chamou, de novo, a atenção para este furacão é a diferença no tamanho dos estragos que uma mesma mega tempestade faz em uma determinada região em relação a outra. Desta vez foi o paupérrimo Haiti, país mais pobre das Américas e ainda em fase de recuperação dos estragos do violento terremoto que atingiu esta parte da antiga Ilha Hispaniola em 2010, quem mais sofreu com a fúria de Matthew. Informações que chegam informam que mais de 900 pessoas morreram com a passagem da tempestade – imagina-se que o número real de vítimas será bem maior que as cifras já divulgadas; nos Estados Unidos, Matthew deixou em seu rastro 11 vítimas fatais. Mais uma vez, são os militares do Exército Brasileiro da criticada missão no Haiti, que estão à frente das equipes de resgate e atendimento às vítimas.

As imagens da destruição provocada pela passagem do furação no Haiti são impressionantes – grandes paisagens de escombros se sucedem num plano continuo, mostrando a razão do grande número de mortes já confirmadas. Vale lembrar que o grande terremoto de 2010 já havia reduzido grande parte da infraestrutura do país a ruínas e que, devido a precária situação econômica, muito pouco se reconstruiu. Nos Estados Unidos, ao contrário, Matthew encontrou cidades preparadas e populações treinadas para uma evacuação organizada, onde mais de 2 milhões de americanos abandonaram suas casas em áreas de alto risco e se deslocaram para regiões seguras; considerando-se que os três estados atingidos pelo furacão – Flórida, Geórgia e Carolina do Sul, tem uma população total de 35 milhões de habitantes, o número de vítimas fatais é extremamente baixo. Os estragos na infraestrutura das cidades atingidas pelo furacão também são pequenos e em poucas semanas a vida poderá voltar ao normal. A tragédia vivida principalmente pela população do estado da Luisiana em 2005 com a passagem do furacão Katrina, que destruiu a charmosa cidade de Nova Orleans e provocou mais de 1.000 mortes, serviu de lição para as autoridades americanas, sendo colocadas em prática antes da chegada de Matthew ao território dos Estados Unidos.

Há alguns anos atrás estive em algumas das cidades do estado da Flórida atingidas pelo furacão Matthew nesses últimos dias e confesso que fiquei impressionado com preparo para as situações de furacões e tempestades. Os americanos tem uma cultura de enfrentamento de adversidades climáticas e catástrofes de todos os tipos – as crianças desde a mais tenra idade recebem treinamentos nas escolas para evacuações em casos de incêndio, terremotos, nevascas, ciclones e furacões. As famílias possuem espaços nos porões de suas casas para o armazenamento de mantimentos, barracas, cobertores, lanternas (e armas e munições) para situações de emergência. Em Fort Lauderdale, por exemplo, observei trilhos instalados nas janelas das casas – em caso de aviso de furacão, os moradores vedam as janelas com placas de madeira encaixadas nestes trilhos; muitas casas apresentavam portas de aço de enrolar (como as portas das lojas) sobre as janelas e portas – em caso de emergência é só baixar essas portas de aço para proteger as casas. No Haiti, ao contrário, os habitantes só podiam contar com a proteção dos deuses…

Usei esse exemplo trágico e ainda em andamento para lembrar dos problemas que enfrentamos ano após ano nas previsíveis temporadas das chuvas aqui em nosso país. De intensidade muito inferior a um furacão de intensidade 1 (o mais fraco da escala), nossas chuvas sempre provocam tragédias enormes. Só para citar um exemplo – as enchentes e deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro em 2011, deixaram em seu rastro 916 mortos e 345 desaparecidos em Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo e outras cidades vizinhas: é praticamente o mesmo número de mortes já confirmadas pela passagem do furacão Matthew no Haiti.

É bom refletirmos muito sobre isso.

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